QUEM NÃO TEM MEDO DA MORTE?
No dia 2 de novembro
celebramos o Dia de Finados, lembrando e celebrando por todos os nossos fiéis
falecidos.
Se há
alguns poucos anos falar de sexo abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte".
Quem não
tem medo da morte? A grande certeza que vivemos, é que um dia
morreremos, no entanto "morremos
de medo de morrer...". Cada vez que a morte passa por perto,
ou me encontro diante dela através do exercício de meu ministério, encomendando
alguma pessoa falecida, meu questionamento é em relação à vida que levo!
A morte é uma excelente oportunidade de melhorar minha qualidade de vida.
Geralmente deixamos para depois, as mudanças que talvez tivessem de ser
revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa morte, mas quando
vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito, a não ser morrer!
Há quem chama a morte de segundo parto.
O primeiro acontece quando deixamos o útero materno, que geralmente é
aconchegante e delicioso. Talvez por isso a criança, ao nascer chora. O segundo
parto, é deixar o "útero
da terra". Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói, nos faz
chorar e traz vazio com sabor de saudade inexplicável.
Nossa
vida poderia ser comparada a uma viagem de ônibus. Quem ainda não andou de
ônibus? Quando nascemos, entramos num ônibus, que é a vida terrena. A única
certeza que temos é que há um lugar reservado para nós. Uma poltrona. Não
sabemos quem serão nossos companheiros de viagem. Apenas sabemos que a poltrona
reservada para nós deverá ser ocupada. Às vezes, ocupamos a poltrona do outro,
e isso nos traz constrangimentos. Já assisti muitos "barracos" em
ônibus cuja mesma poltrona estava reservada para duas pessoas. Não sabemos
quem serão nossos pais, irmãos, amigos, parentes, enfim...
Nossa
única missão é tornar a viagem a mais agradável possível. Às vezes há pessoas
que tornam a viagem insuportável; outras vezes a viagem é agradável!
Há
também o bagageiro. Nossas coisas não podem ocupar o lugar dos outros, mas devem
caber em nosso próprio bagageiro do ônibus, a vida!
O
ônibus, de vez em quando pára na rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida
terrena, a rodoviária é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de
banheiros, de óleo diesel, barulho de ônibus chegando e saindo, ninguém se
conhece, muita gente se esbarrando ou até se derrubando. Há sempre uma
incerteza, um friozinho na rodoviária que arrepia nossa espinha, que é a morte.
Ninguém gosta da rodoviária: todos passam por ela porque precisam, mas não
porque gostam. Haverá um momento em que nosso nome será chamado no alto-falante
da rodoviária. Então precisaremos descer do ônibus da vida. Se tivermos enviado
algum bilhete, uma carta, feito um telefonema ou até mesmo enviado um
e-mail, uma mensagem por WhatsApp para a eternidade, avisando nossa
chegada, não precisaremos ter medo, porque Deus estará esperando por nós. O
bilhete, a carta, o telefonema, o e-mail são nossa maneira de viver a fé,
a esperança e a caridade através de nossa relação conosco, com Deus e com
os outros!
Assim
Deus estará esperando-nos na rodoviária da morte. Seremos identificados e
acolhidos por Ele, de acordo com o que fomos e fizemos, nunca com o que
tivemos. Se Deus não tiver tempo, pedirá ao Seu Filho Jesus para buscar-nos e
conduzir-nos à morada eterna. Se de tudo Jesus também não tiver tempo, Nossa
Senhora nunca
nos deixará perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de
braços abertos, para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos
em Seu Eterno Colo de Amor. É o que rezamos sempre: "...rogai por nós pecadores, agora e na
hora da nossa morte. Amém!"
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo
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