segunda-feira, 19 de agosto de 2024

SÃO JOÃO EUDES - 19 DE AGOSTO

João Eudes nasceu no vilarejo de Ry perto de Argentan, na Baixa-Normandia (norte da França), em 1601. Seus pais, já idosos, suplicaram a Deus a graça de uma prole, consagrando o primeiro filho, de antemão, à Nossa Senhora. João foi o primogênito de sete irmãos, criados em ambiente profundamente religioso. A partir dos 12 anos, procurava comungar com frequência, ao contrário do costume de então de só fazê-lo na Páscoa. Fez seus primeiros estudos com os jesuítas, em Caen, preferindo rezar na capela a brincar durante os recreios. Aos 14 anos fez o voto de perpétua virgindade. Em 1618 entrou para a Congregação Mariana do colégio, aprofundando a sua devoção a Nossa Senhora. Em 1623, vencendo a resistência do pai, entrou em Paris na Congregação do Oratório de Jesus, do futuro cardeal Bérulle. Este percebeu seus dons de pregador e antes mesmo da sua ordenação em 1625, aos 24 anos, o encarregou de missões populares, ocasiões em que obtinha inúmeros frutos de piedade; dizia-se que desde São Vicente Ferrer (1350-1419) a França não tivera maior pregador. Os encontros da Congregação, destinada à educação, formação e aprofundamento do clero, nos mesmos moldes daquela fundada por São Felipe Néri em 1575 na Itália, ocorriam semanalmente na residência de uma nobre francesa, surgindo daí uma elite conhecida como escola francesa de espiritualidade, que viria a reformar o clero francês no século XVII. Em 1627 João assistiu aos enfermos da peste negra na Normandia. Visitou quase todos os locais afetados, especialmente os mais afastados e esquecidos, levando cuidados físicos e espirituais aos doentes e seus familiares. Não tinha medo da contaminação, e brincava que “até a peste tinha medo de sua pele”. Mas para evitar ser meio de propagação, dormia isolado num barril velho, ao lado de um paiol da própria casa. Depois disso dedicou-se inteiramente à evangelização do povo, destacando-se nos três problemas fundamentais para a Igreja francesa da época: a evangelização das regiões rurais, a boa formação do clero e a necessidade de maior espiritualidade, no caso centrada na devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Principalmente nas regiões afastadas dos grandes centros urbanos, era lamentável a condição espiritual da população. Por isso João se indignava, dizendo: “Que fazem em Paris tantos doutores e tantos bacharéis, enquanto as almas perecem aos milhares por falta de quem lhes estenda a mão para tirá-las da perdição e preservá-las do fogo eterno?”. Suas pregações atraiam e convertiam multidões, por vezes milhares de uma só vez, e incluíam a administração dos Sacramentos, especialmente a Confissão. Há registro de impressionantes 110 das suas missões, cada uma de um ou dois meses, abrangendo vastos territórios como Bretanha, Bolonha, Normandia. Em Versailles, diante do rei Luís XIV e da rainha Ana d’Áustria, recriminou com termos severos a má conduta dos soberanos, que, reconhecendo os erros, passaram a apoiá-lo. Nas suas inúmeras viagens pastorais, João constatou o mal causado pela heresia jansenista, que propunha a salvação para apenas certo número de eleitos e com isso levando o povo a perder a fé na misericórdia de Deus – e como consequência afastar-se da Igreja e se deixar levar pelos vícios. Contra esta “indignidade” que não permitia a participação nos Sacramentos, João ensinava a correta Doutrina do amor e do perdão de Deus pelos arrependidos, mesmo os que tivessem cometidos os mais graves pecados. Entre 1641 e 1643, João foi forçado a um repouso absoluto por motivo de grave e súbita doença. “Deus me deu estes dois anos para empregá-los no retiro, para vagar na oração, na leitura de livros de piedade e em outros exercícios espirituais, a fim de preparar-me melhor para as missões”. Voltando ao trabalho ativo, constatou com tristeza que os frutos das evangelizações eram apenas temporários, e concluiu que isto se dava pela falta de sacerdotes piedosos e cultos, capazes de manter o fervor dos missionários. Esta situação, por sua vez, resultava da carência de seminários que bem preparassem os futuros padres, conforme as orientações do Concílio de Trento. Viu ele a necessidade da fundação de seminários, uma tarefa contudo difícil e exigente. Mas seu propósito foi favorecido pelo auxílio de Maria de Vallées, uma virgem que conheceu em meados de 1643 na cidade de Coutances, e que havia se oferecido a Deus como vítima expiatória pelos pecados do mundo: sua extraordinária vida incluiu a possessão demoníaca do corpo, mas nunca a da alma e da vontade; por dois anos sofreu espiritualmente os suplícios do inferno, e durante 12 participou dos tormentos de Cristo. Por 15 anos ela auxiliou João com orações e conselhos, e assim ele se dedicou a fundar uma ordem religiosa destinada à formação do clero nos seminários, e uma congregação de religiosas cuja missão seria a regeneração das mulheres arrependidas: “O projeto é sumamente agradável a Deus, e foi o próprio Deus Quem o inspirou”, disse ela depois de muitas orações. Para realizar estes trabalhos, João teve que se desligar da Congregação do Oratório, um processo muito custoso e ao longo do qual enfrentou muitas oposições e acusações injustas. Mas em 1643 fundou a Congregação de Jesus e Maria (ou Padres Eudistas), para a formação doutrinal e espiritual do clero e continuidade das missões paroquiais, e em 1651 a Congregação Nossa Senhora da Caridade do Refúgio (Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, ou Irmãs do Bom Pastor), destinada a socorrer tanto mulheres que se prostituíam por causa da pobreza como crianças abandonadas, para que não se perdessem no futuro. Fundou também a Sociedade do Coração da Mãe Mais Admirável, que se assemelha às Ordens Terceiras de São Francisco e São Domingos, para leigos que desejavam viver uma vida de perfeição. Em todas estas iniciativas, começou a propagar a devoção aos Sagrados Corações de Jesus e Maria (antes das revelações deste Coração Divino a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690)). Dedicou as capelas de seus seminários de Caen e Coutances aos Sagrados Corações, estabelecendo neles confrarias em Sua honra, e compôs um Ofício para o Sagrado Coração de Maria. Esta devoção era uma necessária e providencial reação ao jansenismo, inspirando amor e confiança na Misericórdia Divina, e naturalmente tem base teológica. João demonstrou com argumentos que o Coração de Jesus e o de Maria não têm diferenças entre Si, mas constituem, pela união existente entre Ambos, um só e mesmo Coração. Em 1648 celebrou pela primeira vez o culto litúrgico (Missa e Ofício, compostos por ele mesmo), aprovado pela Igreja, da festa do Imaculado Coração de Maria, e a do Sagrado Coração de Jesus no ano 1672. Essas celebrações fazem parte agora do Calendário Litúrgico normal. João Eudes e os missionários da Congregação de Jesus e Maria pregaram milhares de missões populares, e justamente onde eles estiveram o povo melhor resistiu à perseguições antirreligiosas da Revolução Francesa (1789-1799). No final da vida, vários foram os sofrimentos de João. Doenças, morte de amigos e benfeitores, calúnias, murmurações – não apenas dos jansenistas, mas também de católicos, acusando-o de zelo indiscreto –, a publicação de um libelo difamatório, e intrigas para o desacreditarem junto ao Papa e ao rei da França, Luís XIV. Em 1680, renunciou ao cargo de superior-geral da sua própria congregação. E faleceu no mesmo ano em Caen, norte da França, aos 19 de agosto, com a idade de 79 anos. São João Eudes é o fundador de duas congregações religiosas e seis seminários. Além de extraordinário pregador popular, escreveu enorme número de obras ascéticas e místicas de grande valor teológico. É o “Autor do Culto Litúrgico do Sagrado Coração de Jesus e do Santo Coração de Maria” (Papa Leão XIII) e “pai, doutor [pelo seu embasamento teológico] e apóstolo” deste mesmo culto (Papa São Pio X).

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