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terça-feira, 26 de julho de 2022
São Joaquim e Santa Ana - 26 de julho
O culto aos pais da Virgem Maria foi tardio no Ocidente, com início tímido em torno de 900-1000, enquanto no Oriente cristão já no século VI havia manifestações litúrgicas relevantes, especialmente em ligação com as festas marianas como a Conceção e a Natividade. Foi o papa Gregório XII que apontou, em 1584, a sua festa litúrgica para 26 de julho.
O nome de Ana deriva do hebraico Hannah (graça), ao passo que Joaquim significa, sempre do hebraico, “Deus torna fortes”. Apesar de sobre Ana haver poucas notícias, e ainda para mais provenientes de textos não oficiais e canónicos, o seu culto está extremamente difundido quer no Oriente como no Ocidente.
De duas figuras tão importantes na história da salvação não há qualquer vestígio nos Evangelhos canónicos. Sobre elas fala amplamente o Protoevangelho de S. Tiago, um evangelho apócrifo do século II. As elaborações posteriores desse documento acrescentariam outros detalhes, que apenas a devoção ditava. Segundo essas fontes, Ana era uma israelita da tribo de Judá, filha do sacerdote Mathan, de descendência do rei David, personagem basilar da identidade judaica.
O Protoevangelho de S. Tiago narra que Joaquim, esposo de Ana, era um homem piedoso e muito rico, e habitava próximo de Jerusalém, próximo da piscina de Betzatá (referida, no Novo Testamento, no início do capítulo 5 do Evangelho segundo S. João, a propósito da cura, por parte de Jesus, de um paralítico).
Um dia, enquanto estava a levar as suas abundantes ofertas para o templo, como fazia anualmente, o sumo sacerdote Ruben parou-o, dizendo-lhe: «Tu não tens o direito de o fazer, porque não geraste prole». Joaquim e Ana eram esposos que se amavam verdadeiramente, mas não tinham filhos, e dada a idade já não poderiam tê-los. Segundo a mentalidade judaica do tempo, o sumo sacerdote entreviu a maldição divina neles, pelo facto de serem estéreis.
O rico pastor ancião, por causa do amor pela esposa, não queria desposar outra mulher para ter um filho. Magoado pelas palavras do sumo sacerdote, Joaquim dirigiu-se ao arquivo das doze tribos de Israel para verificar a veracidade do que Ruben dizia. Tendo constatado que todos os homens piedosos e observantes tinham filhos, destroçado não teve coragem de voltar a casa, e retirou-se para uma terra sua na montanha, e durante 40 dias e 40 noites suplicou a ajuda de Deus, entre lágrimas, orações e jejuns.
Ana também sofria por causa da esterilidade, a que se juntou o sofrimento pela “fuga” do marido. Por isso, entregou-se a intensa oração, pedindo a Deus para escutar as suas implorações de ter um filho. Durante a oração, aprece-lhe um anjo, que lhe anunciou: «Ana, Ana, o Senhor escutou a tua oração, e tu conceberás e darás à luz, e falar-se-á da tua prole em todo o mundo». Assim aconteceu, e após alguns meses Ana deu à luz. O Protoevangelho de S. Tiago conclui: «Decorridos os dias necessários, purificou-se, deu o peito à criança chamando-lhe Maria, ou seja, “predileta do Senhor”».
Encontro na porta áurea
A iconografia oriental realça, tornando-o célebre, o encontro à porta da cidade, de Ana e Joaquim que regressa da montanha, conhecido como “o encontro na porta áurea” de Jerusalém; áurea porque dourada, da qual, todavia, não há dados históricos.
Os piedosos pais, gratos a Deus pelo dom recebido, educaram com amor a pequena Maria, que aos três anos foi conduzida ao templo de Jerusalém, para ser consagrada ao seu serviço, de acordo com a promessa feita por ambos, quando imploraram a graça de um filho. Depois dos três anos, Joaquim deixa de comparecer nos textos, enquanto que Ana é ainda mencionada noutros evangelhos apócrifos sucessivos, que dizem que viveu até aos 80 anos; refere-se também que, viúva, casou-se mais duas vezes, tendo dois filhos, cuja descendência é considerada, sobretudo nos países de língua alemã, como a “Santa Parentela” de Jesus.
Culto
A primeira manifestação do culto no Oriente remonta ao tempo do imperador Justiniano, que fez construir cerca de 550, em Constantinopla, uma igreja em honra de Santa Ana. A afirmação do culto no Ocidente foi gradual, tendo sido potenciada pelas numerosas relíquias trazidas pelas Cruzadas; a imagem de Ana encontra-se já no século V, mas o seu culto começa em torno do século X em Nápoles, tendo atingido a máxima difusão no século XV, de tal modo que Gregório XIII decide estender a sua evocação a toda a Igreja.
Joaquim foi deixado discretamente à parte durante longos séculos, e depois inserido nas celebrações em data diferente; Ana a 25 de julho pelos gregos no Oriente, e a 26 de julho pelos latinos no Ocidente. Desde 1584 Joaquim foi recordado primeiro a 20 de março, depois, em 1788, no domingo da oitava da Assunção de Nossa Senhora; em 1913 estabeleceu-se a 16 de agosto, tendo mais tarde passado a ser evocado na mesma data de Ana.
Protetora das parturientes
A mãe da Virgem é titular de múltiplos padroados, quase todos ligados a Maria. Por ter trazido no seu ventre a esperança do mundo, o seu manto é verde, e por isso, na Bretanha, onde há uma importante devoção, é invocada para a recolha do feno; por ter protegido Maria como joia num cofre, é padroeira dos ourives e tanoeiros; protege os mineradores, carpinteiros, marceneiros e torneadores. Por ter ensinado a Virgem a limpar a casa, a cozinhar e tecer, é padroeira dos fabricantes de vassouras, dos tecelões, alfaiates, fabricantes e comerciantes de tecidos para o lar. É sobretudo padroeira das mães de família, das viúvas, e é invocada nos partos difíceis e contra a esterilidade conjugal. As parturientes dirigem-se a ela para obter de Deus três grandes favores: um parto feliz, um filho saudável e leite suficiente para o poder amamentar.
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