RELACIONAMENTO
HUMANO!
Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Tereza de Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
O Relacionamento Humano, sem dúvida, passa por uma profunda
crise. Animalizou-se o “Humano”, remetendo a pessoa a um egoísmo ímpar. Além
das inúmeras desculpas e a transferência de responsabilidades, penso que
deveríamos fazer algumas releituras: precisamos reler o
Estatuto da Criança e do Adolescente, que na minha modesta opinião é aplicado
erroneamente. Precisamos reler a educação precária oferecida às crianças, aos
adolescentes e jovens de nosso País, parando de culpar a pandemia. Somos tão
criativos para tantas situações. Não podemos deixar-nos engolir pelo desencanto
da visita de um vírus revestido de diversas variantes, atraído por nosso
próprio descuido para com a natureza e o planeta. Basta olharmos ao nosso
redor, e constatar o quanto o meio ambiente anda desequilibrado, gritando por
socorro e maior respeito. Precisamos reler a possibilidade de pré-adolescentes
poderem exercer algum trabalho antes dos 16 anos de idade, ao invés de tentar
reduzir a “Maioridade Penal”, engaiolando adolescentes em penitenciárias
indecentes e desumanas, que jamais re-socializam pessoas, antes alvoroçam ainda
mais o instinto animal dos amontoados de detentos, ociosos, sem nada para fazer
e sem as mínimas condições de repensarem suas vidas. Fala-se tanto que nossas
penitenciárias são escolas e faculdades do crime (organizado) sofisticado. E
não por último, é urgente que o Estado assuma sua fragilidade, sua incapacidade,
seu descaso e seu covarde modo de tratar os cidadãos, sem o mínimo de dignidade.
Por que não utilizar os bilhões de
reais desviados, e que ainda não foram devolvidos, para repensar o Sistema
Penitenciário de nosso rico Brasil? Se nas Penitenciárias houvesse Fábricas,
Oficinas e Escolas eficientes, os detentos trabalhariam e aprenderiam algum ofício,
durante o cumprimento de suas penas. Ao invés de obrigar os brasileiros a
contribuírem com o “Auxílio Penitenciário”, cada detento honradamente
sustentaria sua família, pagaria suas despesas, enquanto presos, que não são
pequenas, e ainda teriam uma poupança, quando de volta à sociedade, certamente
melhores do que entraram. Isso é possível, porque conheço penitenciárias europeias
que o fazem. Em Novo Hamburgo (RS) onde cresci havia uma Fábrica de Calçados na
Penitenciária e todos aprendiam a fazer sapatos e saiam com emprego garantido.
Hoje há tantas maneiras de profissionalizar ao invés de animalizar as pessoas.
Saem discriminados e a única alternativa é voltar ao crime!
Comecei a trabalhar muito cedo, antes
de completar 13 anos de idade. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Ao
contrário do que afirmam alguns demagogos idealistas, não fiquei traumatizado
por isso. Foi uma honra para mim, poder contribuir com a manutenção da
sobrevivência de minha família, sempre muito pobre, mas feliz e agradecida a
Deus pela saúde e pelas oportunidades que nos eram proporcionadas. Aliás, meus
irmãos e eu tivemos o privilégio de estudar os primeiros cinco anos do Ensino
Fundamental, na época chamado de Primário, numa Escola particular de Religiosas.
As Irmãs da Congregação de Santa Catarina de Alexandria não nos cobravam as
mensalidades. Em troca da gratuidade, nós três irmãos limpávamos as salas de
aula todos os dias e aos sábados fazíamos uma limpeza geral. Eu só tinha seis
anos de idade. Enquanto nossos colegas pagantes iam almoçar, nós ficávamos para
a limpeza da Escola. Depois as Irmãs nos ofereciam um saboroso almoço. Tal
“permuta” seria hoje um escândalo. Mas preciso admitir, que para mim e meus
irmãos, a medida foi construtiva e nos ajuda até os dias de hoje a sermos
agradecidos por tudo que de graça recebemos, até mesmo os desafios e as
dificuldades econômicas pelas quais sempre passamos. Fomos educados a um
exemplar Relacionamento Humano com quem quer que convivamos!
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