QUEM DECOROU A
TABUADA? TIREM UMA FOLHA!
Pe.
Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Eu estava na quarta série
do ensino fundamental, o então chamado quarto ano do primário. Minha professora,
era a mais temida pelas turmas do Colégio inteiro. Exigente e com fama de
reprovar os alunos, zelava especialmente pela matemática, disciplina que não
era a minha preferida. Mas confesso, que por puro medo, me dedicava
sobremaneira para aprender a matemática, pois com fama de “padreco” não seria
bom decepcionar meus colegas e muito menos as Irmãs da Congregação de Santa
Catarina de Alexandria, minhas grandes incentivadoras para meu ingresso no
Seminário. O Colégio Sagrado Coração de Jesus, situado em frente à Igreja
Matriz, cuja Paróquia tem o mesmo patrono, é de propriedade das Religiosas em
Novo Hamburgo (RS).
Certa manhã a Professora
Marlene Staub entrou na sala de aula, nos convidou a rezar e já sentados, disse
em voz bem alta e severa: “Quem decorou a tabuada? Tirem uma folha, pois agora
saberei... Na folha que vocês tiraram de seus cadernos, só escrevam o que eu
disser e nada mais, por favor!”
E a Professora Marlene
começou a dizer: “Duas vezes duas, é a igual a”, e assim por diante até dez
combinações da tabuada. Eu, obedientemente só escrevi o que a Professora disse
e nada mais. Ao receber de volta a prova de surpresa, havia um “Zero” enorme e
em vermelho. Fui reclamar com a professora que me chamou de “burro” e incapaz
de decorar a tabuada. Ao que eu respondi que sabia sim, a tabuada de cor, mas
que escrevi exatamente o que ela mandara. Logo o burro nessa história não seria
eu. Insinuei que a professora não fora nada didática e nem clara ao aplicar a
prova de surpresa, diante de todos os colegas. Éramos trinta e dois alunos na
classe. E isso me levou à Diretora, a saudosa Irmã Cláudia Ody.
Já na Direção a professora
Marlene dramatizou minha conduta em sala de aula. Depois a Irmã Cláudia quis
ouvir minha versão sobre o fato. Eu contei que fui obediente ao que a
professora nos pedira e não merecia o zero. Deixei a diretora e a professora
numa situação difícil. Por fim a diretora pediu que a professora tomasse
oralmente a tabuada de mim diante dela. Acertei todas as combinações e provei à
professora Marlene de que eu estudara e sabia a tabuada de cor sim. Por causa
da confusão, que segundo a professora, eu causara, ela não quis me dar um dez.
Mas a diretora em minha defesa, ordenou que nessa prova eu deveria receber um “dez
com louvor”. Pediu que rezássemos uma Ave Maria e voltássemos à sala de aula.
Ao sairmos da sala da diretora, todos os colegas estavam do lado de fora,
espionando o desfecho dessa história, mais uma de tantas verídicas, que vivi e
jamais esqueci: nem a tabuada, nem a defesa da diretora e também jamais esqueci
minha querida professora, que a partir daquele dia passou a ser menos temida e
mais querida!
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