LIGAÇÕES INCONVENIENTES!
Pe.
Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Como reagimos
diante de ligações inconvenientes? Refiro-me às ligações de telemarketings, que
se tornaram uma espécie de “cultura de sobrevivência” para milhares de
brasileiros, em tempo de pandemia, mas que há muitos anos vem ocorrendo,
especialmente remetidas às pessoas aposentadas. Eu me irrito profundamente com
tais ligações, que insistentemente oferecem produtos, os mais diversos. Trata-se
de uma avalanche de ofertas supérfluas, incitando ao consumismo exacerbado.
Fui
orientado a bloquear os números dos telefones que insistentemente ligam,
geralmente nas horas mais impróprias. Já bloqueei uma centena de números, mesmo
assim novos números ligam com as mesmas ofertas. São operadoras de
telemarketing, de telefonia, de financeiras oferecendo empréstimos consignados,
entre outros.
Conhecemos,
também, ligações provenientes de Casas de Detenção. O Sistema Judiciário e
Penitenciário de nosso País continua vulnerável, não conseguindo conter a
entrada de celulares nas Penitenciárias, de onde vêm incontáveis ligações,
algumas delas ameaçadoras, outras tentando clonar os celulares das pessoas de
boa índole.
Outros
tipos de ligações inconvenientes são as que simulam sequestros de filhos, de
pais, avós ou amigos. Conheço inúmeras pessoas que já receberam ligações
afirmando que em seu poder se encontrariam pessoas que sequer existem. Mães de
filhos apenas do sexo masculino recebendo ligações mentirosas, de que uma de
suas filhas fora sequestrada, com o intuito de bandidos querendo o pagamento de
resgates. Tentativas de outros golpes similares são tão frequentes, a ponto de
não atendermos mais ligações não identificadas, e por isso, deixarmos não
poucas vezes, de atender pessoas que buscam auxílio espiritual, que desejam
agendar um atendimento ou outro compromisso de real importância para ambos, de
acordo com nosso ministério sacerdotal.
Algumas
das medidas preventivas à COVID-19, como o isolamento social, também
proporcionaram algumas ligações inconvenientes. Embora tão necessário para
evitar maior contágio do vírus, o isolamento social descortinou uma carência
afetiva na sociedade, ainda mais aguda, ou antes, velada, de pessoas
especialmente muito ativas, então condicionadas a “ficar em casa”, bem como de
pessoas já antes isoladas por pura exclusão tanto familiar como social.
Aumentaram notoriamente os casos de depressão, fruto da mesma exclusão.
Passamos a utilizar em demasia as novas tecnologias: Celulares, Notebooks,
Internet, Whatsapp e Links para nos comunicarmos o quanto possível, sem o calor
humano do abraço, do aperto de mão, da presença física, porém, para afirmar e
reafirmar a todo o momento, de que estamos juntos, unidos, respirando a
esperança de tempos melhores e valores redescobertos num mais breve possível
pós-pandemia.
Não
obstante as ligações inconvenientes, concluímos de que precisamos bem menos do
que pensávamos para não simplesmente sobreviver, mas viver uma vida saudável,
feliz, onde não se esgota a esperança de que sendo Anjos uns dos outros,
seremos também verdadeiros protagonistas da paz entre as pessoas, onde ainda
cheiramos o odor horroroso da mentira, da disputa, da busca desenfreada de
poder e prestígio. Exalemos o perfume da paz, só então seremos felizes de
verdade!
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