ÓCULOS DE DEUS!
Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Ao
participar de um curso para formadores de seminários, em Vitória (ES), no ano
de 1996, ouvi uma estória que gostaria de partilhar com os estimados leitores.
Gaston de Mezerville, psicólogo especializado na formação de formadores de
seminários a contou. Livremente a traduzo para nossa reflexão, do espanhol para
o português.
Numa
pequena cidade, certa vez morreu um agiota. Foi para o céu. Estando diante da
porta entreaberta do céu, nem ele acreditou poder estar ali. A porta do céu
estava entreaberta, mas não havia ninguém para recebê-lo. Nem mesmo São Pedro,
a quem costumamos atribuir a tarefa de acolher as pessoas na porta do céu. Não
havia ninguém e não se ouvia nada. Nenhum barulho de anjos, santos, enfim, o
céu estava vazio, embora com a porta entreaberta. O agiota entrou. Entrou e
sentiu-se como nunca: leveza de alma, serenidade e harmonia indescritíveis. Foi
adentrando e conhecendo cada cômodo do céu, mas não via ninguém. Um profundo
silêncio pairava no céu.
Chegou
diante de outra grande porta, sobre a qual havia um letreiro: Escritório de Deus! Também aquela porta
estava entreaberta, mas não havia ninguém. O agiota entrou. Viu uma mesa, atrás
dela uma grande cadeira, diante da mesa um banquinho e sobre a mesa os Óculos
de Deus!
Imediatamente
colocou os Óculos de Deus e passou a ver tudo como Deus certamente vê: o
universo inteiro de uma só vez. Minuciosamente procurou sua cidadezinha. Lá viu
seu sócio de agiotagem ameaçando uma pobre viúva que não tinha como lhe pagar
os altos juros do empréstimo que fizera. Com os Óculos de Deus viu a
injustiça que o sócio cometia. Não pensou duas vezes em fazer justiça para com
a pobre viúva. Tomou o banquinho diante da mesa, mirou a testa do sócio e a
jogou em sua direção. O sócio teve morte instantânea. Feito isso, ouviu barulho
de anjos, santos, até de Nossa Senhora no céu. Era toda a corte retornando de
um piquenique celestial. Virando-se, viu também Deus, parado na entrada do
escritório. Colocou de volta os Óculos de Deus, desculpou-se e
tentou justificar sua entrada no céu, porque encontrara a porta entreaberta.
Deus
lhe perguntou o que acabara de fazer. O agiota, todo orgulhoso, contou a Deus o
que vira com os óculos sobre a mesa e que fizera justiça com uma pobre viúva,
que estava sendo ameaçada por seu sócio. E Deus começou a chorar. O agiota,
comovido disse: “Por que o Senhor chora?
Não agi corretamente fazendo justiça?” E Deus respondeu entre lágrimas: “Que pena, meu filho. Você fez sim justiça
com os Óculos de Deus. Mas o que eu
esperava mesmo, é que amasse e tivesse misericórdia com o Coração de Deus”!
Eis o
que Deus espera de nós: promover a justiça com Seus olhos, mas sem deixar de
amar e ser misericordiosos com o Seu coração!
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