OMISSÃO E
HIPOCRISIA SÃO PARENTES!
Pe.
Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
O presente artigo não pretende esgotar a reflexão sobre a Omissão compreendida como parente da Hipocrisia, já que nos porões de minha
consciência amadurece um pequeno livrinho sobre o candente tema. Mas há
frequente coceira em meus dedos, pedindo-me digitar pelo menos algumas linhas,
que possam provocar nossa relação humana diante desse mau hábito!
A omissão, embora declarada “pecado”
na fórmula penitencial que tanto pronunciamos em nossas celebrações católicas:
“Confesso a Deus... que pequei por
pensamentos, palavras, atos e omissões...”
parece não ser muito considerada em nossas relações, a começar da própria
família. Desde a educação familiar, sabemos de mães que omitem erros cometidos
pelos filhos, aos maridos, para evitar agressões, transtornos e tantos outros
tipos de confusão.
As pessoas se omitem com muita
facilidade, quando conclamadas a tomar decisões, comprometerem-se com situações
que ameacem seu prestígio ou cargos que se lhes foram confiados. “Não sei de nada... Não vi nada... Não ouvi
e tais coisas não me dizem respeito...” são desculpas da maioria de
agrupamento de pessoas, quando responsáveis pelas mais variadas instituições de
nossa sociedade, especialmente de nossos governantes!
As omissões são frequentes na esfera
social, política e também eclesial. Enquanto determinadas pessoas nos convém,
somos coniventes até mesmo com atitudes nem sempre recomendadas ou
“politicamente incorretas”. A partir do momento em que não preenchem mais
nossos caprichos, princípios lícitos ou não; quando perguntam o desnecessário
ou se tornam inconvenientes, nossa tendência é imediatamente a omissão, chegando a excluir tais
indivíduos de nossa relação. Não poucas vezes por pura inveja!
Inquieta-se minha consciência quando
me dou conta de ser omisso, uma vez que toda criatura humana é chamada a ser
comprometida com valores que a configuram com seu Criador: a Verdade, a
Justiça, a Liberdade e o Amor. Ouve-se muito que “há coisas que não se diz, nem se escreve e muito menos se discute...”.
Assim instaura-se o que gosto de chamar de “paz
de cemitério”! Porém como ser profeta, missionário, discípulo de Jesus
Cristo numa sociedade onde a Omissão se revela parente da Hipocrisia?
João Batista perdeu a cabeça porque não foi omisso. Jesus Cristo derramou o
sangue na cruz porque não foi omisso. Talvez Públios Lentulus, que descreve o
Jesus Histórico, nos ajude a sermos mais autênticos do que hipócritas. Descreve
Jesus em algumas atitudes: “Até nos
rigores é afável e benévolo”... “Diz-se ainda que ele nunca desgostou ninguém,
antes se esforça para fazer toda gente venturosa!”.
Se a omissão não for superada em nossas relações, continuaremos vestindo
a sobreveste da hipocrisia, varrendo
sujeiras para debaixo de tapetes até não aguentarmos mais o mau cheiro de
nossas mentiras, que tentamos servir como “verdades” abomináveis, que nos
conduzem sobre areias movediças, aumentando o número de nossas vítimas. E como
então viver em meio a uma pandemia que ceifa pessoas que amamos todos os dias,
mergulhados na lama de nossas mentiras, mesmo as institucionais?
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