COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
QUINTO
DOMINGO DA QUARESMA
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Estamos chegando ao final da Quaresma. No próximo domingo iniciaremos a Semana Santa com o Domingo de Ramos. Neste dia,
também concluiremos a primeira etapa da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021: FRATERNIDADE E DIÁLOGO: Compromisso de Amor. “Cristo é a nossa paz! Do
que era dividido, fez uma Unidade” (Ef 2,14a). Com o gesto concreto da coleta manifestamos nossa atitude de
partilha e solidariedade.
A Coleta da Solidariedade do próximo
domingo será o resultado de nossos exercícios quaresmais de penitência,
certamente frutos
saborosos de nosso jejum e abstinência ao longo deste
rico tempo de conversão. Partilharemos de nossa
Pobreza com quem tem menos do que nós. Tudo
aquilo que deixamos de consumir durante a Quaresma será oferta agradável ao coração de Deus, através de nossas
Comunidades de Fé, que enviarão toda a
coleta à Cúria Metropolitana, que a destinará aos projetos, sobretudo
relacionados aos irmãos menos favorecidos. Do total desta coleta 40% serão enviados à CNBB e 60% serão
administrados pela Arquidiocese, que sempre faz a devida prestação de contas
divulgada no site da mesma: www.arquidioceserp.org.br
ou no Boletim Mensal Igreja Hoje!
Na celebração do Quinto Domingo da Quaresma somos
convidados a ver Jesus em sua missão recebida do Pai. Seguimos os passos dos
gregos que subiram a Jerusalém para adorar a Deus. Mas eles querem ver Jesus. O
que significa ver Jesus? Por que ver Jesus? Ver Jesus é compreender sua atitude
e desvendar seu projeto. Jesus mesmo o explica, fazendo uma meditação sobre a “hora”.
“Hora” é o final de sua vida terrestre.
Tudo caminha para essa hora. A “hora” é o momento no qual o amor
gratuito de Deus, materializado em seu carinho pelos pobres, encontra-se com a
força social e religiosa que o rejeita: o pecado. Esse conflito expressa-se
na cruz. Por isso, a cruz é levantada como denúncia daquilo que leva Jesus à
morte e como testemunho de sua entrega de amor.
Na primeira leitura temos a profecia
de Jeremias sobre a nova aliança a qual nós vivemos hoje. Em Cristo repousa a
nova aliança. Para estar nessa aliança, precisamos da força pascal do Cristo.
Essa força nós recebemos no Batismo e continuamos recebendo na celebração dos
sacramentos e na oração da Igreja: é o Espírito de Cristo, a lei da nova
aliança, escrita no coração de cada um de nós.
Em Hebreus, colhemos uma lição
preciosa: Jesus não é um senhor sentado nos palácios, desligado da situação
real das pessoas. Jesus não permaneceu nos céus, contemplando as nossas
angústias, mas tornou-se companheiro de viagem. Percorreu o caminho da
humilhação e da morte. Por tudo isso, podemos confiar nele e aceitar o convite
que nos faz para sermos discípulos missionários. Dessa forma, a segunda leitura
nos convida a seguir o mesmo caminho de Cristo, um caminho semeado de
dificuldades. Ele, porém, o percorreu antes de nós e por isso compreende nossas
dificuldades e incertezas, nossos receios e fraquezas.
E a nossa presença junto aos que
sofrem, aos enfermos, idosos, como vai? Somos como Jesus, uma “Igreja do Ir” ao encontro das
pessoas que já não podem ou querem mais vir, ou nossa Pastoral e Ministério se
resumem em celebrar com os que vêm, quando não excluímos os que não preenchem
nosso “legalismo”?
O episódio do evangelho de hoje situa-se entre a ressurreição de
Lázaro e a última Ceia, segundo o quarto Evangelho. A agressividade dos
adversários de Jesus chegou ao auge. A Paixão já é tramada nos gabinetes. Os sumos sacerdotes haviam dado
ordens: Se alguém soubesse onde Jesus estava, o indicasse, para que o
prendessem (João 11,57).
Prenderam-no por pura inveja!
No evangelho, no entanto, Jesus
convida seus discípulos a seguirem o gesto prudente do agricultor que semeia.
Diz-lhes para não terem medo de perder a própria vida, porque quem morre por
amor entra na glória de Deus. O evangelho interpreta a morte de Jesus como uma
manifestação de seu amor. Para ele o homem cresce e se realiza somente quando
ama, ou seja, quando doa sua vida pelos irmãos.
Para Cristo, o homem atinge o ponto
mais alto da realização de sua vida quando se entrega à morte por amor aos
seus.
Penso ser urgente revermos o
verdadeiro sentido da morte em nossos dias. Não obstante vivamos e promovamos
certa Cultura de Morte, insensibilizados com as milhares de mortes
assistidas diariamente em nossos telejornais, ela, a morte, é ao mesmo tempo
um tabu, na medida em que passa dentro de nossa casa ou por perto dela. Não
acredito que alguém morra na véspera ou atrasado. Mas quantas pessoas têm
direito a uma morte digna, quando nossa Sociedade se encontra falida, sem que nossos governantes consigam atender
dignamente a todos que deles dependem? Se antigamente as pessoas morriam no aconchego
do carinho da família, hoje é submetida a morrer sozinha na frieza de CTIs -
Centros de Terapia Intensiva ou em corredores de hospitais superlotados,
principalmente quando não há convênios ou quando tais moribundos dependem
exclusivamente do SUS – Sistema Único de Saúde, que serve de modelo para países
economicamente desenvolvidos, mas não serve os filhos da própria nação. Não é
deste tipo de morte que o Evangelho deste domingo fala. Se Jesus veio para
curar e fazer o bem, certamente não aprovaria o que se passa nos bastidores de
nossa precária e corrompida Política Pública de uma
Sociedade que alimenta seu capitalismo selvagem com a miséria de milhões de
filhos de Deus, prometida, de eleição em eleição,
tornar-se a melhor do mundo, mas que de governo em governo envergonha nossa
nação. Há os tipos de mortes que nos santificam, como: gestos de ternura, delicadeza,
gratidão, reconhecimento, abrir mão de privilégios em favor do próximo,
etc. Se soubéssemos aproveitar tais oportunidades, seguramente seríamos
bem mais humanos e configurados com Cristo, que nos convida a passarmos por
tais experiências, promovendo-nos mutuamente em tudo.
O homem quer frutificar sem morrer,
mas é impossível. Jesus aceita ser grão que morre debaixo da terra para dar
fruto abundante. Em Jesus se dão as mãos duas realidades fortemente
antagônicas: a morte e a fecundidade. Na conjunção de perder o mundo para ganhar o mundo resume-se o mistério pascal de Jesus Cristo.
Precisamos aprender a lidar melhor com a morte, a fim de estarmos prontos no dia em que nosso nome ecoar na
eternidade. Cada morte que passa por
nós, poderá ser um novo esforço a melhorarmos nossa qualidade de vida!
Desejando-lhes abundantes bênçãos,
com ternura e gratidão o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler: Jr
31,31-34; Sl 50(51); Hb 5,7-9 e Jo 12,20-33)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Março de 2021, pp. 72-78 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da
Quaresma de 2021, pp. 58-65.
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