COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
TRIGÉSIMO-SEGUNDO
DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
O tempo nos remete ao entardecer do ano litúrgico de 2020.
Isso tudo vai favorecendo a reflexão sobre a expectativa do final dos tempos.
Como será e o que vai acontecer? Assim como quando se é convidado para a festa
de um casamento, logo se pensa nos detalhes, os presentes, as vestes, os
convivas, o cardápio do banquete etc. Mas o Evangelista não está preocupado em
satisfazer a curiosidade do protocolo do final dos tempos, mas em como, hoje,
viver em atitude de vigilância ativa
para não ser surpreendido e ver as portas do banquete se fecharem. A parábola
se constitui numa exortação à vigilância
face à Segunda vinda do Senhor – o noivo.
A sabedoria não é algo reservado a alguns iluminados, mas
pode ser obtida por quem a ama e a busca com ardor e empenho. Ela não está
apenas na escola, na Igreja ou nos livros, mas se deixa encontrar por aqueles
que saem à sua procura. Nas ruas e avenidas, pessoas cultas e sem instrução se
encontram, e é justamente nesses momentos que ela se revela. Na convivência
aprendemos a ser sábios. Qualquer encontro pode tornar-se uma escola de
sabedoria.
O evangelho de São Mateus compara o reino de Deus à
parábola das dez jovens – cinco prudentes e cinco insensatas – que aguardam o
noivo. Como este acaba atrasando, todas caíram no sono e dormiram. Quando
anunciam que o noivo está chegando, nem todas estão com as lamparinas
abastecidas para ir-lhe ao encontro. A parábola alerta sobre a necessidade da vigilância. A vinda do noivo (Jesus) no
fim dos tempos é imprevista. É preciso que todos os que querem entrar no seu
reino e dele participar estejam preparados mediante a prática do amor e da
justiça.
São Paulo à Comunidade de Tessalônica, em sua primeira
carta trata da vinda do Senhor, esclarecendo uma dúvida quando vier o Senhor, o
que acontecerá com os que já morreram? Paulo tranquiliza a comunidade com os
seguintes argumentos: o cristão é pessoa que carrega dentro de si a esperança;
se cremos que Cristo ressuscitou, devemos crer que os mortos ressuscitarão e
estarão com o Senhor; na vinda do Senhor, vamos nos encontrar todos juntos
(tanto os que já morreram como os que ainda vivem).
A imagem das bodas é muito feliz, à espera do noivo que
chega noite adentro, as virgens previdentes (munidas de óleo para suas
lamparinas) vigiam e na chegada, lhe fazem cortejo e ingressam na sala
preparada para a festa. Enquanto isso, outras cinco se veem impedidas de
participar da festa por suas lamparinas estarem desabastecidas de óleo. A
questão aqui é a falta do óleo. Mas de que óleo o autor se refere?
Na Sagrada Escritura, o óleo (azeite) sempre está
associado à presença do Espírito Santo, unção, santificação, purificação e
outros termos afins. Na falta, não se empresta experiência com o Espírito Santo
de Deus (Zc 4; Is 61,1); ou
a pessoa tem ou não tem. Para os Padres da Igreja, como Santo Agostinho, “o azeite é símbolo do amor”, que não se
pode comprar, mas que se recebe como dom, se conserva no íntimo e se manifesta
nas obras. Na vida presente, viver com sabedoria, consiste na prática das obras
da justiça e da misericórdia do Reino.
Como viveremos o alimento da Palavra de Deus proclamada
neste Trigésimo-Segundo Domingo do Tempo Comum ao longo da semana?
Como praticamos a justiça e a misericórdia em nossas relações
familiares, sociais, políticas e nem por último, eclesiais? Temos nossas
lamparinas abastecidas ou vivemos na escuridão da mentira, da hipocrisia, da
falsa fraternidade? Quantas vezes, nós nos sentimos juízes (pequenos deuses)
sobre os outros? Julgamos, condenamos, excluímos tantas vezes aqueles que não
pensam como nós; aqueles que nos parecem inconvenientes; aqueles que não nos
elogiam ou bajulam? Penso que a Palavra de Deus nos convida a reabastecermos
nossas lamparinas de amor, perdão,
misericórdia e acolhida aos que tantas vezes deixamos de lado. Como é
perigoso sermos contratestemunhas do verdadeiro amor de Deus entre nós,
machucando com cicatrizes muitas vezes doloridas e incorrigíveis o rosto da
verdadeira Igreja de Jesus Cristo, adonando-nos dela, ao invés de sermos
simplesmente seus servos, mais inúteis do que nossos cargos, funções e
prestígios que nos revestem não poucas vezes de soberba, mania de grandeza,
carreirismo, luxo com apelido de bom gosto, sem falar na estupidez da inveja!
Se nossas lamparinas não servirem
para iluminar o caminho de nossos irmãos, o azeite que as acendem não é bom. O
verdadeiro azeite ou óleo que acende nossas lamparinas nos é concedido desde o
nosso Batismo, dia em que nos tornamos responsáveis uns pelos outros, numa
Igreja verdadeiramente missionária, ministerial, misericordiosa e amorosa. Isso
nos convida mais uma vez a uma profunda e verdadeira conversão pessoal,
eclesial, pastoral e social.
Desejando-lhes muitas bênçãos, com
ternura e gratidão, meu abraço,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler: Sb
6,12-16; Sl 62(63); 1Ts 4,13-18 e Mt 25,1-13)
Fontes: Liturgia Dária da Paulus de
Novembro de 2020, pp. 47-53 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro
de 2020), pp. 71-76.
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