COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
VIGÉSIMO-NONO
DOMINGO DO TEMPO COMUM
DIA
MUNDIAL DAS MISSÕES
Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
A Palavra de Deus do Vigésimo-Nono
Domingo do Tempo Comum, Dia Mundial das
Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária nos desafia a não separar a liturgia da
vivência cotidiana. Com a frase-resposta “dai a
César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, Jesus vence o desafio
lançado por seus opositores e nos ensina a dar glória a Deus por meio da vida
dedicada ao seu povo.
Como cidadãos do reino conduzidos pela mão do Senhor,
vamos acolher a palavra da salvação. Ela vem a nós com a força do Espírito e
nos ensina a dar a Deus o que lhe pertence.
Ciro, rei pagão, torna-se instrumento de salvação nas
mãos de Deus. A autoridade é responsável pelo bem-estar do povo, que tem a Deus
como seu único Senhor. O tripé de uma comunidade cristã é a fé, a caridade e a
esperança.
Não podemos separar a vida cotidiana da vida de fé. Na
assembleia que partilha o pão da vida, reconhecendo-nos todos filhos e filhas
do mesmo Pai e cidadãos da mesma pátria.
Há quem use a palavra do Evangelho
de hoje para manter a religião longe da política. Essa maneira de pensar já é
uma opção política que serve aos interesses dos que têm poder e exploram o
povo.
Em tempo de tanta corrupção, podemos reconhecer vários
poderosos que se colocam como deuses. O poder político coloca-se como valor
absoluto. Pessoas, regimes ou estruturas que impedem a humanidade de ser “imagem de Deus”
na liberdade e na justiça. Roubam de Deus o que pertence unicamente a ele: o povo.
A política e a economia devem ser instrumento para a
realização da justiça, do direito da vida, conforme a vontade de Deus. Quando o
dinheiro domina a pessoa, fica perdida a noção de dignidade, de direito, de
justiça e de respeito. Muitas vezes, é uma questão mal resolvida dentro de cada
um de nós, na sociedade e na política.
Os cristãos que se engajam na política não são fiéis a
Deus na medida em que se comprometem com o sistema que oprime. Quando forem
capazes de renunciar à riqueza, serão fiéis a Deus, a quem devem devolver o
povo que lhe roubaram.
O imposto cobrado deve ser revertido em benefício do bem
comum e não desviado para algum “caixa dois”.
Jesus condena a transformação do povo em mercadoria que enriquece dominadores e
fortalece a dominação tanto interna como estrangeira.
Jesus chama de hipócritas
os grupos que o elogiam, mas sustentam a injustiça sobre o povo. Ele manda
devolver para Deus o que é de Deus – o povo libertado.
O nome do amor hoje é a política vivida como solidariedade.
A Deus não temos como pagar, pois tudo a ele pertence. O
tributo que podemos pagar a Deus é a entrega de nossa vida, compromisso com o
projeto que Jesus nos ensinou, no amor fraterno e na justiça. Ligamos fé,
política e economia, conseguindo romper com a dominação do dinheiro, do
consumismo, da adoração à moeda estrangeira, do poder e do sucesso. Na Igreja,
na comunidade, como nos organizamos para ficar livres da ganância, do poder e
do dinheiro?
A moeda deve ser restituída a César, porque nela está
impressa a imagem do seu senhor: o imperador. Há uma criatura sobre a qual está
impressa a imagem de Deus. Esta é sua e somente sua. Ninguém pode apropriar-se
dela indevidamente.
As palavras de Jesus nos alertam a ficarmos atentos e
prontos a gritar quando as pessoas são injustiçadas, exploradas e massacradas
em seus direitos.
Somos tentados frequentemente a “comprar deus” com dinheiro ou
falsas promessas e dar a César o que é de Deus. O que é de Deus? O que é de
César? Não podemos cair na armadilha e trair os princípios e valores do Reino
de Deus. Pedimos a graça de estar ao dispor de Deus e servi-lo de todo coração.
A comunidade é o lugar, por excelência, para servir a
Deus, cantar as suas maravilhas e professar a nossa fé nele. A fé nos leva a “devolver a César o que é de César”,
recusando todo tipo de dominação ou privilégios, pois, o Deus em quem
acreditamos quer vida e liberdade
para todos.
O
desenvolvimento, crescimento e valor de um País, geralmente, é medido a partir
da economia, enquanto deveria ser reconhecido
desenvolvido, civilizado a partir dos valores de seu Povo:
a riqueza de sua cultura, a sustentabilidade de seus bens naturais e a
sabedoria dos que nascem naquela determinada Nação. Lamentavelmente o dinheiro
apodera-se sempre da “última palavra”.
Com dinheiro resolve-se a vida e os problemas de uma pequena porção de um povo
em detrimento da grande maioria, que sobrevive com “migalhas”.
Se nossos políticos e servidores públicos, que nem sempre
servem o povo, mas apropriam-se indevidamente do que é de todos,
trabalhassem por salários mais modestos, talvez a injustiça na política pudesse
ser sanada. Não é o que acontece. Além de salários demasiados altos, têm
assessorias que recebem vergonhosas ajudas de custo, além de barganhas,
comissões e dinheiro sujo que compra a honra de quem quiser sobreviver ao
sistema corrupto que contemplamos escancaradamente. Nossos impostos não são
honestamente aplicados em favor do bem comum. Quanta sujeira varrida debaixo
dos tapetes de nossos Governos! Subestimam nosso senso crítico e nós não
exercitamos nossa cidadania e direitos. Não valorizamos nem mesmo um centavo de
troco, permitindo que de centavo em centavo, alguns poucos enriqueçam com
dinheiro ilícito. Somos apáticos e conformados com o que nos é imposto,
tornando-nos o País que paga os mais altos impostos do mundo, sem que esses
sejam aplicados em melhor qualidade de vida dos cidadãos.
Os bancários fazem greve enquanto os banqueiros se dão
conta de que muitos dos grevistas são inúteis, já que a vida do País continua.
Sofre o povo simples. Basta inovar um pouco mais a tecnologia eletrônica da
transação bancária e a mão de obra humana torna-se supérflua. Não seria mais
inteligente que os bancários combinassem uma greve interna, sem prejuízo aos
clientes de seus bancos? Durante um mês os funcionários dos bancos deixariam de
vender os produtos de seu banco, atendendo tão somente os clientes, sem fechar
as portas. Nosso dinheiro fica à mercê dos bancos que enriquecem ainda mais,
durante a greve.
Seria
injusto, não fosse diabólico! Enquanto grevistas gritam por justiça, políticos
votam aumento dos próprios salários. Daí que afirmo acreditar na honestidade da
maioria dos políticos, desde que trabalhem sem salário fixo; contentando-se
apenas com o necessário para servir seus
eleitores!
Corruptos
e desonestos não nascem nas Câmaras, no Congresso Nacional, Senado e até mesmo
na Suprema Corte. São (des) educados no seio da própria
família desde tenra idade. Quando os pais pagam seus filhos para que obtenham
bons resultados na escola; quando recompensam os filhos por serem educados,
comportadinhos e coniventes com as falcatruas familiares formando assim homens
e mulheres desonestos, corruptos e sem escrúpulos.
Também em nossas Comunidades,
precisamos estar atentos para destinar com justiça o dinheiro que nos chega,
aplicando-o honestamente. Refiro-me ao dízimo, às coletas hodiernas e
extraordinárias e taxas cobradas nas secretarias de nossas Paróquias e
Celebrações. A Coleta para as Obras Missionários deste Dia Mundial das Missões deverá ser enviada toda ela à Cúria, sem subtrair
nenhum centavo, como parece acontecer frequentemente. Não podemos utilizar o
dinheiro das Coletas para decorar nossos Templos. Vivemos com simplicidade,
utilizando os recursos para nossas despesas? Devemos sustentar nossas
Comunidades com dignidade e partilhar de nossa pobreza com os que têm menos do
que nós. O que Jesus diria a cada um de nós, vendo que algumas Comunidades
sobrevivem com dificuldades agudas, enquanto outras ostentam luxo chamado de
bom gosto? É admissível que numa Igreja que se diz ser de Jesus Cristo haja
tamanha disparidade e desigualdade entre irmãos no Sacerdócio? A tão falada “fraternidade
presbiteral” é concreta ou não passa de “balela”?
Cada um de nós é chamado a responder desde os porões da própria intimidade:
somos coerentes ou hipócritas entre o que pregamos e vivemos:
na Família, na Sociedade, na Igreja e na Política?
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 45,1.4-6; Sl
95(96); 1Ts 1,1-5 e Mt 22,15-21).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2020, pp. 75-82 e
Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2020) pp. 51-55.
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