DOR QUE
DÓI MAIS!
Pe.
Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
A Pandemia nos obrigou à mudança de inúmeros hábitos; interferiu
até mesmo em nossa cultura, aliás, interferiu na cultura dos povos do mundo
inteiro. Embora indigno e tão cheio de frágeis limites, sempre procurei zelar
por meu ministério sacerdotal, cuidando especialmente e mais ainda na última
década, dos Idosos, Enfermos e Enlutados que o Senhor da Vida foi me confiando.
Minha presença ministerial na vida das pessoas, como Pastoral da Escutação,
através do Sacramento da Reconciliação, sempre ocupou privilegiadamente meu
tempo por onde passei. De repente me dou conta que também sou idoso, enfermo,
do grupo de risco, enfim. E com isso surge uma dor que dói mais!
Depois da Eucaristia, os Sacramentos da Reconciliação e da Unção
dos Enfermos me são os mais caros. São os Sacramentos da Cura. Como é bom ver o
dia declinando com a sensação de ter colaborado com a cura de tantas pessoas
que amamos, por conta de nosso sacerdócio! Mas a Pandemia vem limitando nosso
exercício ministerial e de quando em vez é necessário contar com a compreensão
dos que nos procuram para a celebração de tais sacramentos, reafirmando com
esperança de que “isso vai passar” e então poderemos novamente nos encontrar!
Observando todos os protocolos de prevenção, consegui ao longo
desses últimos meses, passar por algumas pessoas, levando-lhes a absolvição e o
Viático (Jesus em Viagem): Pupilos e Pupilas da amada Igreja Santo Antoninho,
Pão dos Pobres; Membros da Equipe Nossa Senhora da Esperança, a mais antiga e
idosa de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto e celebrar pelo menos uma Missa
Semanal aos Domingos, com transmissão ao vivo pela Plataforma do YouTube da
Paróquia Santa Teresa D’Ávila no Jardim Recreio de Ribeirão Preto. As demais
atividades, como lecionar, participar de reuniões, especialmente da PASCOM
(Pastoral da Comunicação) e das Foranias às quais pertenço, tomar decisões
junto à Paróquia e à Reitoria, colaborar com o FAC – Fraterno Auxílio Cristão,
acontecem com a prudência necessária, preservando minha vida e evitando ser
contaminado pela COVID -19, na maioria das vezes virtualmente, porém com grande
proximidade na oração por todos aqueles que nossa amada Igreja me confia
diariamente.
Mas há uma dor que dói mais! As celebrações de
Exéquias, conhecidas como Encomendação de nossos falecidos. A morte dói demais
para os que devolvem a quem de direito seus entes queridos, o Criador! Com a
Pandemia nos impuseram protocolos que aumentam a dor da chamada “perda” de
alguém que amamos. Prefiro, ao invés de “perda”, falar em entrega ou devolução,
até porque nós não nos pertencemos uns aos outros. Somos todos emprestados por
certo tempo, a fim de que na eternidade encontremos nosso único e verdadeiro
Senhor!
Os velórios dos que não fizeram a “viagem sem volta” acometidos
pela COVID-19 não podem durar mais do que duas horas, com restrição da presença
de até dez pessoas no máximo. Sem homenagens, sem o reencontro dos parentes,
sem tempo para uma despedida mais digna. Já as pessoas ceifadas pelo Vírus são
simplesmente ensacadas e diretamente enterradas. Tudo por causa de um Vírus
invisível e ainda tão desconhecido. As exigências me parecem legítimas, porque
evitando maior contaminação, protegem a vida das pessoas que ficam. Mas
trata-se, sem dúvida, de uma dor que dói mais!
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