CRISE
ÉTICA POR EXCELÊNCIA!
Pe.
Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Em meio à Pandemia vivemos também uma “mudança de época”. Com Frei
Nilo Agostini dedilho algumas linhas sobre esse tempo que nos obriga a grandes
mudanças de hábitos, de comportamento e até mesmo de certa urgência ética. Esta
“mudança de época” nos traz a sensação de esvaziamento, de ausência de sentido
e de normas, de incerteza e de crise. Por causa disso, fala-se até em crise da
Modernidade; estaria então, emergindo a Pós-modernidade. Esta é a hora em que a
ética ou a moral deverão fazer-se presentes, sendo cultivadas em nossa vida
como uma preciosidade que não pode faltar. Precisamos delas para organizar a
nossa vida e os espaços de convivência em favor de um equilíbrio da vida. Sem
isso, caímos facilmente em modelos que nos corrompem e nos levam a perder o
equilíbrio; às vezes podem nos levar à falência. Ter por base a moral e a ética
significa recuperar a nossa capacidade de saber cuidar da vida, organizá-la
pessoal e socialmente, sem perder de vista o seu valor, a sua dignidade,
alicerçando-a em valores em favor da vida de cada ser humano e que se estendem
ao cuidado da natureza e incluem necessariamente o cultivo de Deus.
Em meio à Pandemia e às rápidas transformações de nossa sociedade,
identificamos uma crise que é do humano. Ela é também identificada como uma
crise ética por excelência! Os fenômenos desta crise, mesmo aqueles
aparentemente exteriores, nos atravessam por inteiro e profundamente; dizem, inclusive, quem somos neste momento da
história. Esta crise apresenta traços nítidos em seus contornos, profundidade e
extensão. Ela está criando um desequilíbrio das bases vitais do ser humano,
atingindo suas raízes mais profundas, que chamamos de ethos. Face a ela, urge resgatar o vital humano em suas diversas
dimensões.
A crise trazida pela Pandemia revela-se como uma crise que nos
desestabiliza em nossa base mais profunda, na raiz ou identidade mais profunda
do humano, que chamamos de ethos. Já
não estamos mais diante do consenso da sociedade de nossas origens. Vivemos uma
crise porque nossa identidade mais profunda fragmentou-se. Não temos mais um
modo consensual de ser e de viver; isto atingiu o ethos. Assim, nossa “matriz” de percepção, de avaliação e de ação
não nos dá mais a base comum para vivermos em sociedade. Esta se tornou
pluralista e policêntrica. Frente a esta crise, faz-se necessário buscar a
mediação da regra, numa produção ética das instâncias normativas e da própria
moral para sustentar o ser humano em sua vida pessoal e social. Sem uma moral, não
conseguimos viver com segurança; precisamos de rumo na vida e de balizas
norteadoras.
A moral tem, portanto, o seu lugar de mediação; ela nos faz pensar
nas normas, nas regras de comportamento, nos princípios e nos valores que
orientam o agir humano. É bem verdade que ela pode assumir uma perspectiva legalista,
personalista ou dinâmica; pode apresentar-se como ciência, como ensino ou
doutrina, ou como prática, com um sentido negativo, quando evocada no seu
sentido moralizante, ou positivo, quando se baseia na autenticidade, coerência
e sinceridade.
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