COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Seduziste-me,
Senhor, e deixei-me seduzir;
foste mais forte, tiveste mais poder...” (Jr 20,7ª).
O Vigésimo-Segundo Domingo do Tempo Comum reflete, contempla e agradece
a vida do Povo Brasileiro, suas conquistas e seu clamor por justiça, igualdade,
respeito e cidadania à luz da Semana da Pátria que se aproxima! Vivemos uma
realidade que clama por reconciliação e paz. Supliquemos à Virgem
Conceição Aparecida que olhe para o
Povo Brasileiro, do qual é mãe, rainha, padroeira e protetora.
Não é fácil renunciar a bens e privilégios, mas é
fundamental abandonar maneiras velhas de pensar e agir, para poder seguir o
evangelho. Convocados a esse seguimento, celebramos a páscoa de Jesus, a qual
se manifesta em todos os que perdem a vida por amor ao reino.
A palavra de Deus cativa e compromete as pessoas. Quem
busca assumir o projeto de Jesus experimenta pessoalmente a verdade de que os
sistemas do mundo não combinam com o evangelho de Jesus Cristo.
A palavra de Deus nos
seduz e nos compromete com seu projeto. O seguimento de Jesus exige renúncia e
comprometimento. O verdadeiro culto que agrada a Deus é fazer sua vontade.
Nós podemos desconfiar de uma Igreja que não conhece o
martírio. Por quê? Porque o caminho dos cristãos não é diferente do caminho de
Jesus. É feito de incertezas, mas também de coragem e esperanças; de lutas, mas
também de vitórias; de cruz, mas também de ressurreição e vida; de não conformismo,
mas também de compromisso com o projeto de Deus. Disso nos falam Jeremias,
Jesus e Paulo. Pedro, no evangelho deste domingo, representa o medo que temos
das consequências do cristianismo que enfrenta as forças contrárias à vida;
Jeremias é a voz dos que sofrem fortemente os apelos da Palavra irresistível;
Jesus nos mostra o caminho da vitória; Paulo nos fala do verdadeiro culto
agradável a Deus. A Palavra deste domingo, em síntese, nos encoraja no
testemunho cristão, evitando que a mediocridade nos conduza a um beco sem saída.
Todos nós, como Jeremias e como Pedro, passamos pela
tentação de querer apossar-nos apenas do aspecto glorioso do mistério pascal,
negando sua dimensão de renúncia à própria vida. A tentação do ser humano
moderno é a realização humana através das próprias forças. Esquece-se de que a
pessoa humana transcende-se a si mesma a partir de Deus. É só perdendo-se a si
mesmo pela doação da própria vida ao próximo por causa de Cristo que ele se
realiza de verdade.
O destino do cristão, discípulo de Jesus, não pode ser
diferente do destino do mestre. O evangelho deste domingo é claro: Para
estar com ele são exigidas duas condições: Renunciar a
si mesmo é deixar de lado toda ambição
pessoal. Em outros termos, temos aqui a repetição da primeira
bem-aventurança: ser pobre (cf. Mt 5,3). Carregar a própria cruz é enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o
sofrimento, perseguição e morte por causa da justiça que provoca o surgimento
do Reino... É a última bem-aventurança, a dos perseguidos por causa da
justiça (cf. Mt 5,11). Ser discípulo de Jesus, portanto, é reviver a
síntese das bem-aventuranças.
A lição que Pedro recebe ensina-nos a olhar para Cristo,
para ver nele a lógica de Deus; a olhar para os pobres, para ver neles o
resultado da estratégia do Adversário... Pois o sucesso e a ganância produzem
os porões de miséria. Devemos analisar o sistema de Deus e o sistema do
Adversário hoje. O sistema de Deus proíbe ao homem dominar seu irmão, porque
Deus é o único dono; os sistemas contrários
são baseados na dominação do homem pelo homem. Quem quiser ser mensageiro do
Reino de Deus experimentará na pele a incompatibilidade com os sistemas deste
mundo. O mensageiro de Deus, seguidor de Jesus, será rejeitado pela sociedade
como corpo
alheio. Tomando consciência disso, vamos rever nossa escala de
valores e critérios de decisão. A mania do sucesso, o prazer de dominar, de
aparecer, de mandar... já não valem. Vale agora o amor fiel, que assume a cruz,
até o fim.
Embora muitas pessoas não gostem de pensar e muito menos
de falar no assunto, procuro sempre imaginar-me, quando vou a algum velório, no
lugar daquela pessoa confinada num pedaço de madeira: E se fosse eu que estivesse no lugar da
pessoa falecida? Estaria preparado para encontrar-me diante de Deus? E como
estaria? De mãos cheias ou vazias de boas obras e gestos de caridade? Renunciar a própria vida e consumir-se
pelo anúncio do Reino de Deus é parecer como uma vela de cera, que quanto mais
se derrete, maior e mais bela é a chama que ilumina e encanta o olhar de quem a
contempla. Temos deixado o fogo abrasador de o Espírito Santo acender-nos como
velas, luzes que iluminem e encantem a vida de nossos irmãos?
A Palavra nos convida à docilidade daquilo que o Mestre
espera de cada um: tanto dos ministros ordenados, como daqueles que não são
ordenados, mas também Sacerdotes, por conta do Batismo que os adotou
como herdeiros da Vocação ao Amor!
Consigamos
transformar em nossa vida pessoal e também pastoral: O
Poder em Serviço; Os Bens (materiais e intelectuais) em Partilha; O
Prestígio em Humildade,
buscando viver nosso ministério, configurados com o Mestre, a partir da Conversão, Coerência
e Bom Senso sempre mais conscientes!
Superemos os “Pecados Paroquiais: Saudosismo, Milindrismo e Estrelismo”, abrindo-nos
ao diferente, ao novo, como tanto nos sugere e pede nosso Papa
Francisco!
Ainda tem-se a sensação clara, de que tais apelos do Papa ainda
não chegaram às bases de nossas Comunidades. Sua insistência numa Igreja mais simples, mais
pobre, menos hipócrita e descomplicada, ao invés ainda
demonstra muitas ostentações, arrogâncias, abusos de poder sejam eles
eclesiais, políticos e comunitários. Não sei se o Papa ficaria feliz ao saber
de nossas relações inter-eclesiais, entre pastores e rebanho. Ainda há muitos
que surram suas ovelhas sem a tão insistente Igreja da Misericórdia sonhada pelo Papa.
Outro fator muito evidente e feio é a desobediência reinante entre nós. Descuidar das orientações do Papa, reiteradas pelos Bispos e
Superiores é mera hipocrisia. Quem sabe assumir nossa cruz, renunciar a nós
mesmos, não seria uma conversão para valer!
Desejando-lhes muitas bênçãos,
com ternura e gratidão, nosso abraço,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler Jr 20,7-9; Sl 62(63);
Rm 12,1-2 e Mt 16,21-27).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de
2020, pp. 109-116 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Agosto/2020).
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