COMENTANDO A PALAVRA DE
DEUS
DÉCIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM
MÊS
VOCACIONAL – DIA DOS PAIS
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“A verdade e o amor se encontrarão,
A justiça e a paz se abraçarão;
Da terra brotará a fidelidade,
E a justiça olhará dos altos céus” (Cf. Sl 84).
O Décimo-Nono Domingo do Tempo
Comum é também o segundo domingo do Mês
Vocacional, em que saudamos os
vocacionados à vida em família, com atenção especial aos pais, neste dia
dedicado a eles.
Jesus espera de Pedro e de nós uma resposta corajosa a
seu convite: Venham
e alimentem-se da palavra e do pão eucarístico. O Senhor é nossa
segurança nas tempestades da vida.
Deus se revela na brisa mansa, mas não deixa de se
manifestar também quando os ventos são contrários e as águas agitadas. A Igreja
é convidada a acreditar na presença confortadora de Jesus mesmo em meio às
maiores dificuldades.
Deus nos fala de muitas maneiras, também no silêncio do
coração. É preciso atravessar as
ondas da resistência para construir o reino de Deus. Não podemos medir esforços
na defesa do projeto de Deus.
Na eucaristia, não basta que nos seja dado o sinal da
presença de Cristo, o pão e o vinho; é necessária a fé, para reconhecer o
Senhor que vem.
Gosto sempre de insistir no silêncio
para poder ouvir o que Deus tem a nos dizer. É bem verdade que devemos estar
sempre atentos para podermos ler a presença do louco
amor de Deus para com a humanidade nas diversas situações de
nossa vida. É preciso colocar Deus no meio, aliás, acima de tudo que vai
acontecendo em nosso hodierno. Como os apóstolos em meio ao vento forte em alto
mar, vendo Jesus caminhando sobre as águas, somos tentados a gritar: “É um fantasma”. O mundo parece-me tão
doentio, que parece ver “fantasmas”
a toda hora. Vemos com mais facilidade um Cristo
espetaculoso, o que dá manchete, do que um Cristo
espetacular, que implica em compromisso de fé. O maior de todos
os espetáculos já aconteceu: estamos vivos!
Porém, andar também sobre as águas, desconfiados da presença
amorosa de Deus em nossa vida, revelado por Jesus andando sobre as águas, reforça
nossa autossuficiência, arrogância e prepotência. Achamos que conseguiremos
resolver nossas dificuldades do nosso jeito e, frequentemente dispensamos a mão salvadora do Senhor. Assim nos afogamos
em nossa própria fragilidade, deixando-nos levar pelos ventos fortes, que
costumam derrubar-nos facilmente. Tais tempestades podem ser a inveja, a
ganância, a busca de poder e prestígio a qualquer custo, mesmo que isso
machuque outros. O egoísmo e a insensibilidade com os mais fracos. O afogamento
mais frequente em nosso tempo é a depressão, a perda do sentido da vida, a
sensação de fracasso, a baixa autoestima e a decepção com as pessoas nas quais
confiamos mais do que no próprio Senhor da Vida!
Só Deus não decepciona. Então não nos resta, senão a humildade
de Pedro: sem nenhum constrangimento e nenhuma vergonha,
gritemos: “Senhor, salva-me!”
Deus vem ao encontro do homem especialmente nos momentos
de necessidade... O Deus dos profetas e de Jesus é aquele que toma a defesa dos
pobres e dos fracos. Ele não está nos fenômenos naturais grandiosos e
violentos, mas no sopro leve da brisa, como que significando a espiritualidade
e intimidade das manifestações de Deus ao homem.
A comunidade cristã vive uma existência atormentada pela
hostilidade das forças adversas, que se manifestam nas perseguições e
dificuldades internas e externas. Unicamente com suas forças, ela não chegaria
ao fim do seu caminho. Mas Jesus ressuscitado está presente no meio dos seus;
embora invisível, ele os assiste.
Os discípulos fazem uma travessia. Eles a fazem de barco.
É noite. Ventos contrários. Mar agitado. Estamos diante de uma imensa
simbologia.
O mar era visto na época como o lugar onde habitavam
monstros terríveis e ameaçadores. Mar agitado e ventos contrários, à noite,
eram sentidos como sinais da fúria dos pavorosos monstros, ávidos por engolir
os navegantes.
O barco é símbolo da própria Igreja nascente, as
comunidades cristãs se expandindo em missão. Nesta travessia, para o outro lado,
isto é, nesta expansão rumo à pátria definitiva, as comunidades sentem-se
ameaçadas por ventos contrários e pelo mar agitado, isto é, pelas violentas
resistências dos poderosos (=monstros) ao projeto de Deus.
(É bom não esquecer que os poderosos são fortes
diante dos fracos, mas se tornam fracos diante dos fortes em Cristo Senhor!).
As dificuldades que a Igreja enfrenta hoje devem nos
fazer enxergar melhor a presença de Cristo em novos setores da Igreja,
sobretudo na população empobrecida e excluída da sociedade do bem-estar
globalizado. De repente, Jesus se manifesta como calmaria no ambiente
tempestuoso das “periferias existenciais” do mundo, como costuma afirmar o Papa Francisco. Na simplicidade das
comunidades nascidas da fé do povo. Temos coragem para ir até ele ou duvidamos
ainda, deixando-nos levar pela onda?
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o
abraço amigo e fiel,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 19,9.11-13; Sl 84(85); Rm 9,1-5 e
Mt 14,22-33).
Fontes: Liturgia
Diária da Paulus de Agosto de 2020, pp. 41-47 e Roteiros Homiléticos da CNBB do
Tempo Comum I (Agosto de 2020) pp. 60-64.
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