COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
DÉCIMO
QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
A Palavra de Deus do Décimo Quarto Domingo do
Tempo Comum trata da vocação, do chamado
recebido pelos profetas, pelos apóstolos, pelos discípulos e por todos os que
se reúnem, para serem enviados na força do Espírito Santo.
Jesus foi rejeitado porque se
apresentou como um trabalhador que cresceu em Nazaré ao lado de parentes,
amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não descobriram nele nada de extraordinário
que o identificasse com o Messias de Deus. Mas o extraordinário está justamente
aí: no fato de não ter nada que possa diferir da condição humana comum.
O Filho de Deus se fez como qualquer
um de nós. Muitos afirmam que não creem porque não veem. Os conterrâneos de
Jesus não creem justamente porque veem Jesus trabalhador, o filho de Maria, um
homem do povo, que não frequentou nenhuma escola superior, um homem que vem de
Nazaré, lugarejo insignificante. O escândalo da encarnação continua sendo um espinho
atravessado na garganta de muitos cristãos de boa vontade. Isto faz pensar no
desafio que é a encarnação do Evangelho na realidade do povo.
A Palavra de Deus nos faz um apelo: não depositar nossa confiança nos grandes.
Também não precisamos ter medo de nossa pequenez e fraqueza. Na trajetória de
Jesus, o maior fracasso se transforma em vitória e ressurreição. Junto a Ele,
há lugar para os fracos. Em Cristo, somos fortes.
Jesus fica admirado com a falta de
fé das pessoas de sua terra, as quais não acreditam que Deus possa falar
através de pessoas simples. A Palavra de Deus se reveste de roupagem humana e vem a nós com o auxílio da
história e de pessoas frágeis, enviadas por Ele.
A fraqueza humana dos
enviados por Deus cria um espaço de liberdade; quem ouve pode decidir a favor
ou contra. Às vezes, gostaríamos que Deus se revelasse mediante atos
maravilhosos e, assim, evitaríamos o trabalho de discernir quando e por meio de
quem Deus se revela.
Jesus se fez servo e, por isso,
entra em choque com os que preferem o privilégio e o poder. A encarnação
continua nos questionando e nos empurrando para a missão junto aos
marginalizados e enfraquecidos.
Neste ano de tantas crises políticas,
sanitárias, econômicas, éticas e morais, é preciso saber distinguir os
poderosos que se revestem de aparente humildade para manipular e enganar o
povo, em proveito próprio. É muito comum, também entre nós, considerar o
poderoso como único capaz de realizar algo pelo povo.
O Documento de Puebla nos fala do “potencial evangelizador dos pobres”. O
que podem nos dizer os pobres, os deficientes de nosso país? Aceitamos a
revelação de Deus vinda na fraqueza de nossos irmãos e irmãs, na simplicidade
do dia a dia?
A Palavra de Deus nos convida a renovar nossa adesão a Jesus, consagrando-nos mais
generosamente à causa do Reino. Essa nossa profissão de fé nos leva a confirmar
que seguimos aquele que foi rejeitado por ser trabalhador, filho de Maria, uma
pessoa comum de seu tempo, vindo de uma aldeia e, por isso, motivo de desprezo
e rejeição.
Acima de qualquer expectativa
humana, o Senhor manifesta sua grandeza na singeleza do pão e do vinho, frutos
da terra e do nosso trabalho. Na simplicidade da partilha. Ele nos confirma no
seu caminho. É em nossa fraqueza que Deus continua manifestando sua força.
Todo ser humano é chamado à Vocação ao Amor! Ela é a primeira vocação e o fundamento de todas as demais, as
chamadas Vocações
Específicas! O cristão, tendo consciência de
sua vocação ao amor, só consegue viver sua Vocação Específica, na medida em que
se configura com Jesus Cristo: na sua humildade, no seu espírito de serviço, na sua simplicidade e no seu total desapego de prestígio,
poder, ganância, acúmulo de bens e diplomas. Não poucas vezes nossa vontade de
queremos ser melhor do que os outros, bem como a acepção e discriminação de
pessoas de nossas relações, desfiguram nossa missão de discípulos verdadeiros.
Somos convidados a superar a inveja, a busca de prestígio, o “querer
aparecer-se diante dos outros”, o “tentar esconder nossos defeitos atrás dos
defeitos dos outros”, assumindo com simplicidade nossa história e nossa vida do
jeito como ela é. As falsas aparências, aquelas que enganam os outros, são
abomináveis ao Reino de Deus que deve ser sempre anunciado com nossa própria
vida, mesmo que nem sempre compreendidos, aceitos, reconhecidos por uma
sociedade que pensa sustentar sua sobrevivência sobre a hipocrisia. Quantas
pessoas conhecemos que tentam comprar o prestígio, pagam preços altos, muitas
vezes pisando sobre os mais fracos, para subirem na vida, aparentemente, porque
se consideram superiores. Como é feio achar que os outros são feios e nós os
bonitinhos! A fome de querer ser melhor nos consome e nos apodrece, enquanto a
fome de ser humilde, simples e desapegado de qualquer prepotência, é saciada
pelo próprio Cristo, que se dá em alimento vital, a fim de tornar-se o refúgio dos justos!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com
ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Zc 9,9-10; Sl 144; Rm 8,9.11-13 e Mt 11,25-30).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho
de 2020, pp. 25-32 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de
2020) pp. 35-39.
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