COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
DÉCIMO-SÉTIMO
DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Maravilhosos são os vossos testemunhos,
Eis por que
meu coração os observa.
Vossa
palavra, ao revelar-se, me ilumina,
Ela dá
sabedoria aos pequeninos” (cf. Sl 118).
Refletiremos
a Palavra viva do Pai, que é Jesus, do Décimo-Sétimo
Domingo do Tempo Comum, que continua a nos falar dos segredos do
Reino dos Céus.
A
Palavra de Deus deste domingo leva-nos a encontrar os verdadeiros tesouros do
Reino de Deus. Somos convidados a entrar na posse do tesouro escondido,
centrando nele o projeto de nossa vida e escolhendo entre coisas novas e
velhas.
Salomão pede sabedoria
para governar e julgar com justiça; Paulo nos diz que Deus convida a todos os
seres humanos a fazer parte de sua grande família e Jesus nos ensina que o seu
reino deve ser nossa principal preocupação.
A sabedoria é
necessária aos governantes para bem servirem o povo. É necessário investir com
decisão no reino dos céus. Deus, artesão perfeito, fez de nós uma obra-prima.
Insisto em diferenciar
o sabido do
sábio!
Sabido é quem possui uma avalanche de informações, sem saber administrá-las.
Tais informações podem levar a pessoa ao “oco”, ao “nada”, ao “superficial” e
“aparente”. Já o sábio, mesmo sem diploma nenhum,
é aquele que acolhe, compreende e vive a sabedoria
divina! É exatamente o que o Rei Salomão pede a Deus. Como nosso
mundo seria diferente, se deixássemos Deus, nosso Criador, respirar nas
entranhas de nossa intimidade. Se deixássemos os dons do Espírito Santo agir em
nossas escolhas. Muitas vezes tem-se a impressão de que a pessoa tem a
arrogante pretensão de querer ser deus sobre o Criador e até chega a
convencer-se de que consegue manipular e “barganhar” o Espírito Santo. Tais pretensões,
chamamos de “politicagem daqui e dali”, em instituições familiares,
comunitárias, sociais, políticas e nem por último eclesiais, o que naturalmente
é desastroso, quando não pecaminoso. Mas o que não é Deus cai. Um dia cai e cai
feio. O grande convite, portanto, é deixar Deus agir em nós, esvaziando-nos de
qualquer ganância prestigiosa e elogiosa. Gosto demais de rezar o terço com o
povo simples, que às quatro horas da madrugada, ligado na Rádio Aparecida, reza
por tantas necessidades e por tantos que além de não rezarem, ainda os
ridicularizam. Esse povo, na minha modesta opinião, é verdadeiramente sábio e não simplesmente sabido.
Para
Deus, os pobres e desprotegidos são seu tesouro. Por este tesouro ele investiu
o melhor de si, isto é, seu próprio Filho que se fez pobre com os pobres. Aí
está o tesouro da sabedoria de Deus, o segredo de seu Reino, infinitamente mais
valioso do que todos os poderes e riquezas deste mundo.
Então, qual é o Reino
de Deus hoje? Aquilo que queremos ter em nosso poder, aquilo que com tanta
insistência agarramos e procuramos segurar? Nossas posses, privilégios de
classe, status etc.? Ou não será
antes a participação na comunhão fraterna, superar o crescente abismo entre
ricos e pobres e transformar as estruturas de nossa sociedade, para que todos
possam participar da construção do mundo e da História que Deus nos confia?
A verdade é que cada
pessoa, mais cedo ou mais tarde, em algum dia, terá, obrigatoriamente, que se
desfazer de tudo, até mesmo da vida. É o dia em que vamos morrer. Naquela hora
derradeira, faremos a experiência de total pobreza: experiência de não sermos,
de fato, donos de nada, nem mesmo da vida. Suprema hora em que todo poder,
orgulho, vaidade, apego necessariamente caem por terra. Hora, portanto, da
suprema e bem-aventurada chance de, no vazio de nós mesmos, Deus ser tudo em
nós.
Pouco
tempo antes do Padre Léo da Canção Nova falecer, encontrei-me com ele no
aeroporto de Navegantes (SC). Ele viajava de Brusque e eu de Blumenau para São
Paulo. Tive o privilégio de viajar ao lado dele e, o que me marcou
profundamente foi a seguinte frase dele:
“Padre Gilberto, antes de adoecer
e chegar a este estágio de minha fase terminal da doença, já aguardando o dia
de ver Deus face a face, sempre tive muita dó dos pobres. Hoje, fazendo a
experiência da enfermidade que me consome tão rapidamente, passo a ter dó dos
ricos. Você já imaginou a hora em que tiverem de deixar tudo para trás?”
Já antes, quando num
velório, eu me imaginava confinado naquele pedaço de madeira, pensava como ele.
Depois deste encontro com o Pe. Léo ficou ainda mais intensa a reflexão: no dia em que meu nome ecoar na eternidade, não terei
como não ir. E irá comigo somente aquilo que fui e, nada do que possuí. O que tive, ficará para trás.
Que meu tesouro seja de
valores essenciais:
amor gratuito, verdade, justiça, liberdade e paz! O resto é apenas resto!...
Desejando-lhes muitas
bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 3,5.7-12; Sl 118; Rm 8,28-30 e Mt
13,44-52).
Fontes: Liturgia
Diária da Paulus de Julho de 2020, pp. 99-107 e Roteiros Homiléticos da CNBB do
Tempo Comum I (Julho de 2020) pp. 50-54.