COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
DOMINGO DE RAMOS
COLETA NACIONAL DA SOLIDARIEDADE
Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
"Jesus Cristo se tornou
obediente,
obediente até a morte numa
cruz.
Pelo que o Senhor Deus o
exaltou e deu-lhe
um nome muito acima de outro
nome" (Fl 2,8s).
O Domingo de Ramos introduz a Semana da Paixão do
Senhor. A Liturgia nos oferece dois evangelhos de Mateus: um para a Bênção dos
Ramos (Mt 21,1-11) e outro para a Liturgia da Palavra - narrativa da Paixão (Mt 26,14-27,66).
Há poucos dias, o
povo tinha visto Jesus ressuscitar Lázaro em Betânia. Estava maravilhado! Ele
tinha certeza de que este era o Messias anunciado pelos profetas. Contudo,
pensava que fosse um Messias político, libertador social, forte e poderoso, que
arrancaria Israel das garras dos opressores e lhe devolveria os bons tempos de
Salomão. Jesus, porém, apresenta-se completamente diferente do imaginário
popular. Ao contrário dos poderosos que andavam em carros de guerra, em
imponentes cavalos, ele entra em Jerusalém montado num jumentinho. Jesus é um
rei manso, humilde e pacífico e, ao mesmo tempo, forte e firme. É interessante observar que foi um jumentinho que conduziu Jesus, ainda no útero de Maria, porta-jóias do Salvador, a Belém onde nasceu;
ao Egito, para fugir da inveja incontrolável de Herodes que não admitiu alguém
melhor e maior do que ele; de volta a Nazaré, onde passou sua infância na
simplicidade de uma Família simples, comum e obediente à Palavra
de Deus, e agora à Entrada
triunfal em Jerusalém, ao encontro de sua paixão e morte de cruz!
Ele faz justiça,
devolvendo vida aos excluídos, humildes e necessitados. As multidões o
reconhecem, estendem mantos à sua passagem e, com ramos nas mãos, aclamam: “Hosana ao Filho de
Davi! Bendito, aquele que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto do céu!” Em contrapartida, os
poderosos preocupam-se e agitam-se.
O Filho de Deus
entra em Jerusalém como rei messiânico, humilde e pacífico. É o servo paciente
que se encaminha para enfrentar voluntariamente, sem violência, a humilhação e
o aparente fracasso, impostos pela maldade humana. Jesus chega à cidade, em
direção à qual peregrinou por longos dias, para ser vitorioso: “vencerá pela força da
não violência do amor”. O caminho do
Messias e de todos os seguidores é paradoxal: pelo fracasso ao triunfo, pela
derrota à vitória, pela humilhação à glória, pela morte na cruz à ressurreição.
A liturgia do Domingo de Ramos revela a grande
contradição entre a relação do povo e o Filho de Deus e sua missão redentora.
Primeiro a multidão aclama: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito aquele que vem em
nome do Senhor. Hosana no mais alto do céu!” Dias depois, grita por sua condenação:
“Crucifica-o! Crucifica-o!” A cruz e a morte despontam no
horizonte da recusa do projeto messiânico: “O caminho do amor que se entrega a
Deus e aos humanos, em favor da justiça e da paz, de forma mansa e humilde”.
O Domingo de Ramos é marcado, de uma
parte, pelo mistério, pelo despojamento e pela entrega total e, de outra, pelo
senhorio e pela glória do Filho de Deus.
O relato da Paixão é um convite a
entrarmos a Páscoa. Esta se constitui num chamado à vida nova, à vida no
Espírito, que implica amor incondicional a Deus e ao próximo e cuidado fraterno
da criação. Esta vida nova nos é dada e leva à plenitude a obra da criação. Na
celebração pascal, recebemos o Espírito do Ressuscitado para vivermos a vida
nova.
Para emoldurar a
leitura da Paixão do Senhor, a liturgia deste domingo, proclama o terceiro
canto do Servo Sofredor. O apóstolo Paulo, na perspectiva da Paixão do Senhor,
exorta os filipenses a contemplarem o Filho de Deus que, inteiramente
despojado, se fez servo e obediente à vontade do Pai, até a morte de cruz. Em
sua total entrega, revelou o mistério de sua grandeza. Por isso, o Pai o ressuscitou
e o glorificou.
O grande convite
para todos nós cristãos é o despojamento total, o que naturalmente
não é tão simples. Não é fácil optar pela humilhação quando se ocupam
cargos e funções de confiança, na vida social, política, eclesial e
comunitária. Fazemos de tudo para alcançar prestígio, e deste
dificilmente abrimos mão, mesmo que isso prejudique a outros. Ainda é muito
notória entre os cristãos, o carreirismo, a busca do poder e do prestígio a todo custo. Revestimo-nos mais
do caráter invejoso de Herodes e dos que pediram a crucifixão do Salvador, do
que da personalidade do próprio Cristo, não obstante nos pensemos cristãos, daqueles que se dizem
"certinhos" enquanto conseguem esconder seus
limites e pecados atrás dos que chegaram a público. Como é frequente,
principalmente entre "autoridades ou pessoas públicas, e aqui não
escapamos também nós eclesiásticos" esconder nossos pecados atrás
daqueles que foram descobertos. Certa vez numa visita à
Penitenciária, ouvindo as lamúrias e desabafos de alguns detentos, disse a eles: "Agradeçam a
Deus a sorte que tiveram de serem presos. Assim terão oportunidade de mudarem
de vida. Sinto dó daqueles que fazem coisas piores, mas sentem-se
melhores, pelo simples fato de não terem sido descobertos em seus erros..." O outro
problema é a discriminação que se institucionaliza em relação aos
que um dia, sabe-se por que, erraram. Mesmo mudando de vida, dificilmente
têm novas oportunidades. Os certinhos não deixam. Sentem-se superiores e
falta-lhes a capacidade da cruz, ou seja, do perdão, da misericórdia e do
amor de verdade!
Não nos esqueçamos de
levar às Comunidades os justos resultados de nossos exercícios quaresmais de
penitência, partilhando um pouco de nós com quem tem menos. É o Dia Nacional de
Coleta da Solidariedade: FRATERNIDADE E VIDA: DOM E COMPROMISSO! “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc
10,33-34).
Que a Semana Santa
nos faça melhores do que somos e que a cruz nos santifique!
Desejando a todos
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Mt 21,1-11; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl
2,6-11 e Mt 27,11-54).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2020, pp. 26-32 e Roteiros
Homiléticos da CNBB para a Quaresma (Abril de 2020), pp. 46-52.
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