Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
A Vigília Pascal é a celebração da Ressurreição por excelência. Seu caráter de vigília não se refere à preparação
da festa, mas tem raízes na celebração da vigília
dominical, presente na origem do culto
cristão, em que se começa a celebrar o Dia do Senhor ainda no sábado, desembocando no amanhecer do Domingo. A Vigília Pascal, portanto, não é vigília à espera de uma festa, mas a própria festividade; a mais
importante que ocorre no Domingo de Páscoa. A solenidade do terceiro dia do Tríduo Pascal.
A celebração da Vigília Pascal consta de quatro
momentos que costumamos designar como: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra,
Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística.
É verdade que, de modo bem
semelhante ao que ocorreu às mulheres diante do sepulcro vazio, os
acontecimentos da vida nem sempre nos parecem fáceis de interpretar, de modo
que através deles reconheçamos a Páscoa de Cristo nos envolvendo. Ao nos depararmos com a crueza da violência
urbana, a rapidez com que as pessoas são destruídas pelo uso do crack nas
grandes cidades, a luta interminável dos povos indígenas de nosso país em
conseguir seu pedaço de chão para sobreviver, a perseguição daqueles que se
põem ao seu lado, a corrupção institucionalizada no setor político-econômico...
Tudo o que contemplamos com nossos olhos não parece testemunhar a vitória de Cristo sobre a morte. Parece que
estamos a procurar entre os mortos aquele que está vivo.
Cristo Ressuscitou. Vida nova se
inicia: tristeza e desânimo pertencem ao passado; esperança e otimismo
contagiam nossa existência. Jesus venceu a morte e vive para sempre
junto à nossa comunidade e a cada um de nós.
Acompanhemos Maria Madalena ao túmulo e ouçamos dela a alegre notícia: Jesus já não se encontra entre os mortos, mas está vivo e
presente entre nós.
Enquanto a
humanidade destrói e mata, Deus ressuscita e dá vida. O amor nos faz acelerar o
passo na busca dos objetivos. A presença do
Ressuscitado provoca vida nova na
comunidade.
O texto de João que proclamamos, na
celebração da Páscoa, conjuga o primeiro e o terceiro dia. O Domingo – Dia do Senhor – é ocasião
concreta, experimentável para que os cristãos possam descobrir que Cristo Ressuscitou, segundo o
testemunho das Escrituras. O Domingo, para os cristãos de todos os tempos, se mostra como uma
submissão do tempo a Deus. Mas, na verdade, é uma maneira de designar a
submissão do ser humano e todas as demais criaturas a seu criador, uma vez que
o tempo não existe em si mesmo, mas se dá nas percepções e inteligência do ser
humano. O Dia é uma imagem do ser humano.
Portanto, dizer Dia do Senhor é falar do ser humano (e da criação inteira da qual ele é
símbolo) como pertença a Deus. Em especial, por causa da Páscoa de Jesus, é uma maneira de
colocar no centro das atenções a importância – e urgência – do ser humano
redimido. O Dia é uma imagem do ser humano
que vive de processos, ritmos e ritos. Do ser humano que se vai construindo.
Melhor dizendo, do ser humano que se vai revestindo de glória nas palavras da
carta de Paulo aos Colossenses.
Esta experiência precisa encontrar
lugar real e concreto em nossa época. O domingo, como um dia no calendário, não mais responde por aquela ocasião
em que as pessoas podem obter o descanso, exercitar a convivialidade com a
família e os amigos. É mais um dia de consumo, de produção, de lucratividade.
Para a tradição ocidental da qual fazemos parte – por influência da fé cristã –
o domingo era um dia para recordar a
permanente necessidade de humanização. Mas, dia após dia, tudo é igual e as
urgências humanas dão lugar a urgências econômicas.
Neste sentido, é fundamental
reunir-se para celebrar, de modo que os gestos humanos revelem a Escritura e a
Escritura lhes confira sentido, reorientando nossa existência. Nesta direção, é
muito significativo o convite feito na aclamação ao Evangelho, reiterado, como
antífona no canto de comunhão: Celebremos, assim, esta festa, na sinceridade e na verdade. A Páscoa celebrada tende sempre a fazer-se verdade sincera em nossos dias, quer dizer, em nossa vida e
em sua trama cotidiana. Sabemos que o cotidiano em si não existe – é algo sem
forma. Mas o que lhe poderá dar cor, sabor, contorno, veracidade senão a
experiência profunda do encontro com o Ressuscitado que continua a passar fazendo o bem como outrora Pedro afirmou? Assim, o tempo pascal se estende diante de nossos
olhos como um único dia, o Dia do Senhor, no qual a pessoa humana se redescobre e redefine como criatura
de Deus, enriquecida com o seu Amor que a faz reconhecer-se filha
bem-quista e com pleno direito à felicidade num mundo mais justo e mais cheio
de paz.
A Páscoa nos remete ao túmulo vazio de onde exalam os perfumes do Ressuscitado! É desse sepulcro
vazio que emana o conteúdo de nossa fé acolhida, compreendida, celebrada e vivida na relação com Deus, que nos
oferece o único Cordeiro Imolado necessário para nossa felicidade plena, seus Filhos, Jesus Cristo, agora vive
presente entre nós, por força e obra do Espírito Santo!
Uma vez celebrados os cinquenta e sete anos do Concílio Ecumênico Vaticano
II, o sétimo aniversário da renúncia do Papa Emérito Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, O Papa da Ternura nossa Páscoa nos convida à ressurreição imediata na relação com
Deus, com a Comunidade de Fé, Oração e Amor e com os porões de nossa
intimidade. Deixemo-nos envolver pelos aromas da ressurreição no esforço hodierno de
configurarmo-nos cada dia mais com o centro de nossa vida, apaixonando-nos por Aquele que nos move a ser melhores do
que somos, Jesus Cristo vivo e ressuscitado no meio de nós!
Feliz e santa Páscoa a todos! Cheio de
ternura, o abraço amigo e sempre fiel,
Padre Gilberto Kasper
(Ler At 10,34.37-43; Sl
117(118); Cl 3,1-4 e Jo 20,1-9).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2020, pp.
68-72 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tríduo Pascal (Abr
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