COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
TRIGÉSIMO-SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus queridos
Amigos e Irmãos na Fé!
“Chegue
até vós a minha súplica;
Inclinai vosso
ouvido à minha prece (Sl 87,3).
Se há alguns poucos anos falar de sexo
abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte". Por que medo da morte? A
grande certeza que vivemos, é que um dia morreremos, no entanto "morremos de medo de morrer...".
Cada vez que a morte passa por perto, ou me encontro diante dela através do
exercício de meu ministério, encomendando alguma pessoa falecida, meu
questionamento é em relação à vida
que levo! A morte é uma excelente oportunidade de melhorar
minha qualidade de vida. Geralmente deixamos para depois, as mudanças que
talvez teriam de ser revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa
morte, mas quando vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito,
a não ser morrer! Há quem chama a morte de terceiro parto. O primeiro acontece quando deixamos o “útero materno”, que geralmente é
aconchegante e delicioso. Talvez por isso a criança, ao nascer chora. O segundo
parto é, para os cristãos, o momento em que nascemos do "útero da Igreja",
a Bacia Batismal. Já o terceiro parto, é quando deixamos o “útero da terra”. Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói e nos
faz chorar e traz vazio com sabor de saudade inexplicável.
Para os cristãos a morte não é a última
palavra. Vivemos e convivemos com a vida e a morte. A morte e a vida além da
morte sempre fizeram parte das preocupações humanas. Há uma tendência de
“esticar a vida” cada vez mais. Há décadas, morrer aos 60 anos, morria-se
velho. Hoje, quando as pessoas morrem aos 90 anos de idade, achamos que ainda
teriam algum tempo pela frente. Isso é assim, porque a máxima aspiração do ser
humano é a imortalidade.
Nossa vida poderia ser comparada a uma
viagem de ônibus. Quem ainda não andou de ônibus? Quando nascemos, entramos num
ônibus, que é a vida terrena. A única certeza que temos é que há um lugar
reservado para nós. Uma poltrona. Não sabemos quem serão nossos companheiros de
viagem. Apenas sabemos que a poltrona reservada para nós deverá ser ocupada. Às
vezes, ocupamos a poltrona do outro, e isso nos traz constrangimentos. Já
assisti muitos "barracos" em ônibus cuja mesma poltrona estava
reservada para duas pessoas. Não sabemos quem serão nossos pais, irmãos,
amigos, parentes, enfim...
Nossa única missão é tornar a viagem a
mais agradável possível. Às vezes há pessoas que tornam a viagem insuportável; outras
vezes a viagem é agradável!
Há também o bagageiro. Nossas coisas não
podem ocupar o lugar dos outros, mas devem caber em nosso próprio bagageiro do
ônibus, a vida!
O ônibus, de vez enquando pára na
rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida terrena, a rodoviária é a morte.
Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de banheiros, de óleo diesel, barulho de
ônibus chegando e saindo, ninguém se conhece, muita gente se esbarrando ou até
se derrubando. Há sempre uma incerteza, um friozinho na rodoviária que
arrepia nossa espinha, que é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: todos passam
por ela porque precisam, mas não porque gostam. Haverá um momento em que nosso
nome será chamado no alto-falante da rodoviária. Então precisaremos descer do
ônibus da vida. Se tivermos enviado algum bilhete, uma carta, feito um
telefonema, enviado um torpedo ou email para a eternidade, avisando
nossa chegada, não precisaremos ter medo, porque Deus estará esperando por nós.
O bilhete, a carta, o telefonema, o torpedo ou email são nossa maneira de
viver a fé, a esperança e a caridade através de nossa relação conosco, com
Deus e com os outros!
Assim Deus estará esperando-nos na
rodoviária da morte. Seremos identificados e acolhidos por Ele, de acordo com o
que fomos e nunca com o que tivemos. Se Deus não tiver tempo, pedirá ao Seu
Filho Jesus para buscar-nos e conduzir-nos à morada eterna. Se de tudo Jesus
também não tiver tempo, Nossa Senhora nunca
nos deixará perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de
braços abertos, para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos
em Seu Eterno Colo de Amor. É o que rezamos sempre: “...rogai por nós pecadores, agora e na
hora da nossa morte. Amém!"
Nossa fé se debruça sobre a esperança de que morrendo, veremos Deus
como Deus é, e isto nos basta. A morte é superada pela ressurreição. Foi o que
o Ano
da Fé tentou amadurecer na nossa
relação com a vida terrena e a celeste. É preciso transcender e mergulhar no
mistério que Santo Agostinho de Hipona nos propunha: “Nascemos para morrer, e
morremos para viver de verdade!”. Assim que vivermos essa realidade, direcionando o olhar de nossa fé
para a ressurreição, nossa vida será mais harmoniosa, feliz e cheia de novas
esperanças, sentido e perspectivas!
Sintamos, todos o carinho da bênção do Senhor da Vida! Pois “Ele é Deus não de mortos,
mas de vivos” (Lc 20,38). Com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 2Mc 7,1-2.9-14;
Sl 16(17); 2Ts 2,16-3,5 e Lc 20,27-38).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2019, pp. 47-50e Roteiros
Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2019) pp. 73-75.
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