COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
VIGÉSIMO-OITAVO DOMINGO DO TEMPO
COMUM
MÊS MISSIONÁRIO EXTRAORDINÁRIO
Canonização da Irmã Dulce no Vaticano
"Senhor, se levardes em conta as nossas
faltas,
quem poderá subsistir?
Mas em vós encontra-se o perdão,
Deus de Israel!" (Sl 129,3s).
Meus queridos
amigos e irmãos na fé!
A Palavra de Deus do Vigésimo-Oitavo
Domingo do Tempo Comum coloca nosso coração acolhedor diante do grande Milagre da Vida de Deus para conosco e de
nossa Gratidão para com Ele!
Sou do tempo em que
se pedia as coisas "por favor”, e depois de conseguir realizar o
pedido, mesmo vindo dos pais, dizia-se "muito agradecido". Os tempos mudaram e
a educação também. Os filhos exigem que os pais os sirvam com imediatismo e
quando isso não é possível, comportam-se mal-educados e até agressivos. Isso se
transfere às nossas Comunidades: somos hoje mais uma Igreja
"pidona" do que "agradecida", e ai de Deus,
quando não nos atende imediatamente! Viramos as costas para Ele, nos afastamos
da Comunidade de Fé e corremos atrás de outros meios. Muitos ainda reduzem Deus
a um "camelô", tentando "barganhar" com
promessas incabíveis e sem sentido algum. Tenho certa dificuldade com as "salas de
milagres": o que Deus fará com tanta coisa, como cabeças e pernas de cera, muletas,
fotografias, roupas, e cartinhas?... Será este tipo de gratidão que o Senhor espera
de nós? Com todo respeito à religiosidade popular e aos inúmeros Santuários que conservam tais
depósitos de objetos, penso que a gratidão esperada por Deus de
cada um que agracia com o precioso dom da vida é o amor com sabor divino,
o amor realmente gratuito, a capacidade de perdoar e a acolhida, principalmente dos
preteridos, discriminados e excluídos de nossa sociedade que vive da
aparência e não da essência das pessoas.
O próprio Papa
Francisco na Exortação Apostólica Amoris Laetitia reafirma que O Amor na Família parte da suposição
de três palavrinhas orientadoras: Por Favor,
Agradecido, Desculpa!
Em minha infância,
conheci no bairro onde cresci, duas senhoras hansenianas. Uma muito pobre já
sem nariz e orelhas, trabalhava naturalmente na lavoura e tentava fazer de sua
enfermidade um caminho de santidade. Trabalhava rezando e agradecendo a Deus
por poder ajudar no sustento da família. Sentia uma admiração muito profunda
por ela, pois me ensinava a ser ainda mais agradecido pelo corpo perfeito
que Deus me dera. Nossa única semelhança era a pobreza material e a riqueza
espiritual. Alguns coleguinhas me repreendiam porque me aproximava dela e a
tratava com naturalidade, pois sentiam nojo e temiam serem contagiados com a
sua lepra. Tratava-se em Hospital Público e faleceu logo. Nem os medicamentos
conseguia comprar. Já na minha infância os preferidos de Deus morriam por falta de
condições de tratamentos caros e pelo descaso da Saúde Pública, algo que continua
em nossos dias, não obstante promessas jamais cumpridas em campanhas
megalomaníacas e mentirosas. A outra, de família
economicamente privilegiada, ficava escondida no quarto. A família sentia
vergonha e não a expunha a ninguém. Numa tarde consegui, escondido de todos,
espiá-la e até falar com ela. Disse-lhe que não se revoltasse, pois eu me
comprometia a rezar por sua cura. Tempos depois a internaram numa Clínica em
Manaus. Já sacerdote, anos mais tarde a encontrei praticamente curada, ao que
me disse: "Tu tinhas mesmo que ser padre. Deus ouviu tuas orações,
quando ainda criança. Já tive alta e agora ninguém mais tem vergonha de
mim..." Minha alegria foi tamanha, que celebrei várias Missas em
ação de graças, esforçando-me para não reclamar de dores insignificantes!
“Não foram dez os curados? Não houve quem
voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro? Levanta-te e vai!
Tua fé te salvou” (cf. Lc 17,18-19).
Entre
outras, a mensagem principal da Palavra Proclamada neste domingo poderia
ser: A maturidade e a grandiosidade de nossa fé consistem na generosidade de
nossa gratidão. Sabemos se nossa fé é de verdade madura, na medida
em que formos agradecidos a Deus!
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 2Rs 5,14-17; Sl 97(98); 2Tm
2,8-13 e Lc 17,11-19)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro
de 2019, pp. 55-58 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Temo Comum II (Outubro de
2019), pp. 46-52.
Nenhum comentário:
Postar um comentário