COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
VIGÉSIMO-SEGUNDO
DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Senhor, sois bom e clemente,
cheio de misericórdia para
aqueles que vos invocam” (Sl 85,5).
Iniciamos com o Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum o Mês da Bíblia, celebrando em
comunhão com os estudiosos das Sagradas Escrituras e com nossos queridos irmãos
e irmãs que participam de Estudos Bíblicos em nossas Comunidades.
O Senhor nos reúne para tomarmos lugar na ceia eucarística e
partilharmos de sua intimidade e amizade, ouvindo sua palavra e recebendo-o
como alimento. Somos convidados ao banquete do reino, onde não há privilégios,
mas sim privilegiados: os empobrecidos, para os quais Deus prepara a mesa com
muito carinho. A Liturgia deste domingo abra o nosso coração ao espírito do
evangelho.
As leituras nos conclamam a viver a
humildade e a gratuidade, que nos fazem encontrar graça diante do Senhor, nos
aproximam dele e nos tornam felizes participantes do seu reino.
A verdadeira modéstia nos conduz a
Deus e nos dá a consciência da nossa fragilidade e da necessidade de aprender
com os outros. Modéstia e gratuidade são as condições para sentar à mesa com
Jesus em seu reino. Com Jesus, temos novo modo de experimentar Deus.
Na eucaristia, renova-se o gesto de
humildade de Jesus: tornou-se pequeno entre os pequenos. Ao tomarmos lugar à
mesa eucarística, recebemos o vigor e a força que vêm do pão partilhado.
No Evangelho de São Lucas deste domingo, Jesus, convidado pelo fariseu, encontra naquele ambiente de festa
pessoas que se consideravam umas melhores do que as outras. Cada qual queria
superar seu vizinho em importância. Jesus, ao ver tal situação, toma uma
atitude para levá-los a refletir sobre o que é realmente importante, sob a
ótica misericordiosa de Deus. A parábola contada por Jesus deve ter chocado a
todos, pois ela se contrapõe àquilo que os fariseus consideravam socialmente
certo. Jesus lhes diz que aqueles que se consideram “os tais” cairão do alto de seu orgulho e ficarão envergonhados ao
perceberem que seu lugar é o menos importante. Mais ainda, Jesus diz que os melhores lugares estarão reservados aos que são
autenticamente humildes. Por que isto? Porque os que se consideram grandes, os
maiores e melhores são pessoas “cheias de
si”, como se diz comumente. Elas estão com o espírito de tal modo repleto
de orgulho e autossuficiência que, em seu interior, não sobra espaço para
praticarem as virtudes evangélicas, especialmente a caridade. A festa a que Jesus se refere, com certeza, não é uma festa como as que realizamos em
datas comemorativas. Jesus se refere à grande festa que
acontecerá no céu ao final dos tempos. Nela, os convidados não serão nem os
orgulhosos, nem os autossuficientes, nem os egocêntricos. Para ela, receberão
convite os mais humildes, simples, que reconhecem sua fraqueza e se deixam
guiar pela mão de Deus; os que se reconhecem simples e humildes e por isso são
capazes de olhar seus irmãos.
São Paulo nos fala desta festa celestial, reunião festiva de milhões de
anjos, dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição. Obviamente, o caminho
da perfeição não será o seguido pelos orgulhosos fariseus, mas o trilhado pelos
humildes. Na própria resposta que damos à Palavra proclamada, dizemos isto a nosso Deus: “com carinho preparaste esta terra para o pobre”. No entanto, em
muitas outras situações, ele próprio vivenciou aquilo que disse. Jesus é nosso modelo de humildade e doação. Qual humildade pode ser
mais forte, mais autêntica do que a praticada por alguém que, embora sendo de
condição divina, tornou-se humano como nós, tornou-se um conosco?
Fica-nos ainda a lição do livro do Eclesiástico: encontraremos
graça diante do Senhor, ao praticarmos autenticamente a humildade, pois o Pai
escolheu os humildes para a eles revelar seus mistérios.
Só quem é humilde sabe o quanto é bom
ser humilde. Muitas vezes nos deparamos, em nossas Comunidades, com a
arrogância, a prepotência, o abuso de poder, cargos e funções. Quantas vezes,
dizemos não aos mais simples, mas fazemos
a chamada Pastoral da
Amizade, dizendo sim aos que nos são convenientes? Saibamos rever nosso zelo e nossa
sensibilidade pastoral. Não nos roguemos o direito de julgar, mas saibamos acolher, ouvir e inserir na Comunidade todos que nos buscam!
Quando o Papa Francisco falou do clericalismo, referia-se aos
nossos esmerados e queridos Agentes de Pastoral. Embora trabalhem
incansavelmente, nem sempre são suficientemente humildes e acolhedores. Daí surge a Pastoral da Exclusão! Quando o Santo
Padre falou de carreirismo, referia-se aos Ministros Ordenados que gastam suas energias na
busca de poder, cargos, funções e prestígio, mesmo que, para alcançarem isso,
tenham que “subir às custas dos erros dos outros”. Coisa feia! Devemos ser
porta-vozes da misericórdia de Deus e, antes de julgar os outros, entrar aos porões de nossa própria
intimidade, onde certamente encontraremos muitas coisas a serem mudadas.
Sejamos Anjos uns dos Outros e não meros
juízes!
Sejam todos sempre abençoados. Com
ternura e gratidão, meu abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 3,19-21.30-31; Sl
67(68); Hb 12,18-19.22-24 e Lc 14,1.7-14).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2019,
pp. 19-22 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2019),
pp. 14-17.
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