COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
DÉCIMO
QUINTO DOMINGO COMUM
Meus queridos
Amigos e Irmãos na Fé!
Deus se fez próximo de nós. Revelou-se
profundamente humano. Misericordioso, isto é: coração totalmente voltado para o mísero (=misericordioso). Tão próximo de nós que, na pessoa de seu filho Jesus, podemos afirmar: Só Deus é humano. Porque Deus é
assim, é que nos reunimos no Dia do Senhor, o Domingo: para dele
assimilarmos o verdadeiro espírito de humanidade. Tanto sua Palavra como o exemplo de doação, representado pelo Corpo entregue e pelo Sangue derramado de Jesus – agora sob as espécies de pão
e vinho -, são para nós a principal fonte de aprendizado do que significa ser
humano, profundamente humano, a fim de que todos tenham vida, e vida em
abundância.
Imagem de Deus e revelador do rosto
misericordioso do Pai, Jesus neste domingo nos mostra o caminho da vida eterna:
não só conhecer os mandamentos, mas também vivenciá-los, assumindo as atitudes
do bom samaritano. A Eucaristia deste domingo abra nosso coração à misericórdia
e à compaixão para com as pessoas caídas à beira do caminho.
A Palavra de Deus está ao nosso
alcance: não é proposta muito difícil de ser assumida e vivida, pois requer
apenas o amor para se transformar em gesto de misericórdia. Vamos acolhê-la no
coração, para que nos torne próximos de toda pessoa necessitada.
A vivência do mandamento de Deus não
está fora de nossas possibilidades. O autêntico amor nos torna próximos dos
pobres e sofredores. Jesus Cristo é a plenitude do divino no humano. Cristo, o
bom samaritano, faz-se mais próximo de nós, tornando-se nosso alimento e
revelando o amor misericordioso do Pai celeste.
Quem faz a experiência de estar mais próximo de Deus ou, inversamente, faz
a experiência de sentir Deus mais próximo de si? Aquele e aquela – seja
lá quem for; não importando raça ou religião – que se faz próximo do humano, e do humano mais
arrebentado. O próprio Jesus, por sua vida, morte-ressurreição e dom do Espírito, viveu e vive
esta experiência vital divinamente. E pensar que nós somos discípulos e
discípulas dele!...
Jesus não respondeu diretamente ao mestre da lei, porque a questão não é
descobrir quem é e quem não é próximo. Coração generoso se torna próximo de qualquer um que precisa; a melhor maneira de ter amigos é ser amigo. A questão também não é teórica, mas prática. Na prática
esquecemos a parábola de Jesus e fazemos como o sacerdote e o levita: afastamo-nos do
necessitado, mesmo se pertence à nossa comunidade, e não nos aproximamos dele.
Tornar-se próximo é ser solidário. Somos solidários com os que vivem na margem
da estrada de nossa sociedade? Mesmo quando damos uma esmola a um coitado, não
é para nos desviarmos dele? Vai e faze a mesma coisa... Imitar o samaritano exige solidariedade, assumir a vida do outro,
não se livrar dele. Torná-lo um irmão, pois este é o sentido verdadeiro da
palavra próximo. Só assim podemos fazer a
mais verdadeira experiência de Deus, senti-lo próximo de nós e sentir-nos próximos dele.
Existem Bispos e Padres que, no final
da Missa, costumam dirigir-se à porta da Igreja para cumprimentar pessoalmente
as pessoas que vão saindo, desejando-lhes um bom domingo, uma ótima semana,
bênçãos para a família, para o trabalho, para os estudos etc. Afinal, a
celebração continua também na vida... Assim se estabelecem laços afetivos e de
aproximação entre o pastor e os fiéis, e entre os próprios fiéis entre si. Se
houver possibilidade, é aconselhável e pastoralmente muito eficiente, que se
adote tal procedimento nas comunidades.
A Reitoria da Igreja Santo Antoninho é
pequenina. Costumo omitir o Abraço da Paz após a Oração do Pai Nosso.
Sempre achei aquele momento inoportuno e de certa forma, um tanto forçado,
quando não falso. Prefiro deixá-lo para o final da Missa. Até porque valorizo
muito os momentos de “silêncio para interiorização pessoal”: no Rito Penitencial, após as Leituras Proclamadas, após a
Homilia, no Momento indicado para o Abraço da Paz e após a Comunhão. Quando
cheguei, há mais de onze anos, o Povo que frequenta nossa amada Igrejinha,
aproveitava para colocar as novidades em dia. Mais parecia uma feira do que um
Templo. Sugeri que antes das Missas haja silêncio no
interior da Igreja. As saudações de chegada
acontecem fora da Igreja, no Átrio. Colocamos um fundo musical, permitindo a oportunidade
das pessoas prepararem-se bem para a Celebração. Já no canto da dispersão, ao
final das celebrações, todos se abraçam e desejam-se mutuamente a paz. Este sim
parece ser um abraço espontâneo, verdadeiro. Eu fico à porta da saída e quem
deseja passa por mim e também nos abraçamos desejando-nos todo bem e toda paz.
As pessoas gostam e cobram quando isso não é possível. É, também, compreensível
que nem sempre tal gesto é possível. No meu caso funciona bem, por sermos
poucos. Praticamente todos se conhecem, o que enriquece ainda mais a
celebração. Celebramos próximos uns dos outros, quase que “apertando-nos” na pequenina Santo
Antoninho!
Finalmente, a Palavra de Deus deste Décimo Quinto Domingo Comum nos propõe o “próximo” à luz da Parábola do Bom Samaritano! Trata-se de um “Próximo machucado, surrado,
enxotado, incompreendido, engolido pelas drogas e alcoolismo, desemprego,
abandono famíliar, envelhecido, enfermo mal servido, proveniente de famílias
desestruturadas”. Nossas comunidades são realmente configuradas
com o Bom Samaritano? Ou nos identificamos mais com o sacerdote e o levita que olham
para o machucado e saem correndo para o mero cumprimento de seus preceitos e
compromissos outros? Confesso que não consigo entender a presença real de Jesus Cristo no coração de um
presbítero que não cumprimenta seu irmão por bobagens, ou até mesmo questões
mais sérias. Já imaginaram um Sacerdote concelebrando com seu “próximo” virando-lhe a cara? Como um coração desses terá lugar para Jesus, se sua misericórdia não
consegue acolher um simples irmão nem mais e nem menos importante; nem melhor e
muito menos pior do que o próprio arrogante e prepotente “juiz não constituído
pelo Evangelho” deste domingo do Bom Samaritano? E isso se estende
também às nossas Comunidades: Pastorais, Movimentos, Serviços, Comissões,
Conselhos que realizam obras magníficas para serem vistas pelos outros, mas
além de excluir os que vivem em “situações irregulares ou desumanas”, ainda
pisam sobre eles e os difamam? Que não deixemos escorrer pelas mãos esta rica
oportunidade de conversão, coerência e bom
senso, fazendo em nossas relações humanas a
experiência da mais verdadeira misericórdia!
Desejando-lhes
bênçãos e paz, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Dt 30,10-14; Sl 68(69);
Cl 1,15-20 e Lc 10,25-37).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2019, pp.
56-59 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2019), pp.
35-38.
Nenhum comentário:
Postar um comentário