COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
DÉCIMO
SEXTO DOMINGO COMUM
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Somos hóspedes de uma casa. Mais que hóspedes, somos já parte da
família. Nossa casa é esta: este espaço físico e humano que nos abriga, esta
comunidade cristã da qual fazemos parte, esta assembleia na qual vivemos uma
experiência de fé. Isto é, acolhidos por Deus na pessoa de cada um de nós, aqui
reunidos, sentimo-nos um corpo: corpo eclesial de Cristo.
Deus hoje nos acolhe em sua casa e nos
convida a sentar aos pés de Jesus para escutá-lo e participar do banquete
eucarístico que ele nos oferece. Somos desafiados pelo evangelho a ter o
coração hospitaleiro de Maria e as mãos laboriosas de Marta.
As leituras (deste domingo) nos
convidam à abertura ao projeto de Deus e à hospitalidade, atitudes que revelam
a presença do Senhor em nossa vida.
A hospitalidade de Abraão é retribuída
com a promessa do nascimento do filho. Acolher Jesus e sua proposta de vida é o
melhor que podemos fazer. O evangelizador enfrenta com otimismo e esperança o
sofrimento decorrente do empenho pelo bem da comunidade. A celebração
eucarística também é uma ação de hospitalidade na qual Deus nos acolhe e nós
acolhemos a Cristo e dele nos alimentamos.
Um grande mal em nossa sociedade, e
também na Igreja, é o ativismo, a falta de disposição para aprofundar o essencial, sob o
pretexto de tarefas urgentes.
Jesus é um exemplo para todos nós. Sua pessoa está prioritária e
permanentemente focada no modo de ser do Pai. Pelo hábito desta escuta é que ele desenvolveu uma
atitude de serena e saudável acolhida de tudo e de todos. É a partir daí que Jesus observa a Marta que ela anda ocupada e preocupada com muitas coisas, enquanto uma
só é necessária. Essa observação não é uma recusa da hospitalidade, mas indica uma escala de valores: a melhor parte é a que Maria escolheu! O que esta faz é
fundamental e indispensável: escutar. O resto (as correrias pastorais, as reuniões) é importante, mas
deve ter fundamento no escutar. Jesus censura Marta não porque ela cuida da cozinha,
mas porque quer tirar Maria do escutar, para fazê-la entrar no ritmo de suas próprias ocupações. Marta não conhecia a escala de valores de Jesus.
Podemos perceber, através da Carta aos
Colossenses de hoje, que foi da identificação profunda com Cristo que Paulo tirou a força para seu surpreendente apostolado. Gente ocupada é
o que menos falta. Mas sabemos muito bem que toda essa ocupação não tira em
torno daquilo que é fundamental. Dá até pena de ver certas pessoas complicarem
sua vida com mil coisas de que dizem que simplificam a vida. Ao lado delas
encontramos o pobre, o lavrador, o índio, vivendo uma vida simples, mas com
muito mais conteúdo e, sobretudo, com um coração sensível e solidário.
A exemplo do nosso mestre Jesus, importa acolher (a Deus, a Jesus,
aos outros) em primeiro lugar no coração. Só então as demais ações terão
sentido. Isso vale na vida pessoal e também na vida comunitária. Comunidades
que giram exclusivamente em torno de preocupações e reivindicações materiais
acabam esvaziando-se, caem em brigas de personalismo e ambição. Mas comunidades
que primeiro acolhem com carinho a palavra de Jesus num coração disposto saberão
desenvolver os projetos certos e por a palavra de Jesus em prática. Buscai primeiro o Reino de
Deus.
Que Deus nos ajude
a vivermos este espírito do Evangelho trazido por Jesus. Que pela força da Eucaristia, na qual o Pai nos acolhe como corpo eclesial de Cristo, possamos viver a atitude de Maria para que, empenhados como Marta, mas conectados ao único e necessário, que é Palavra reveladora do Pai, trabalhemos com
serenidade e paz pelo bem da humanidade.
A Palavra de Deus deste domingo nos coloca diante da Hospitalidade e de nossa Espiritualidade Eclesial: Ministros Ordenados, Agentes
de Pastoral, nossas Comunidades são reconhecidos
como bons cristãos por causa da hospitalidade e da espiritualidade ou por causa das
intermináveis atividades, como construções materiais? Como é linda a Leitura Orante da Palavra que iniciam
nossas reuniões, nossos encontros e atividades! O Padre Pitico nos tem incentivado a ouvirmos antes de tudo o que a Palavra de Deus (em outras
palavras, o próprio Mestre Jesus) tem a nos dizer!?! Não poucas vezes nos envolvemos com
atividades que nem nos dizem respeito como: decoração de Templos, coordenação
de Quermesses, sempre preocupados em arrecadar recursos financeiros para a
manutenção de nossas Paróquias, que deveriam ser tarefas dos Conselhos
constituídos e não dos Presbíteros. O que não podemos jamais deixar de lado, é
a mais rica espiritualidade na administração dos Sacramentos que só os
Ministros ordenados podem presidir: a Reconciliação, Unção dos
Enfermos e a Celebração Eucarística. Para todas
as demais atividades, podemos formar Líderes de Lideranças em nossas
Comunidades. E que também esses desempenhem suas atividades pastorais e
sociais, sempre e cada vez mais à luz da escuta de Jesus, como fez Maria, escolhendo assim a melhor parte.
Finalmente poderíamos nos perguntar:
sendo o tempo uma questão de prioridade, quais são nossas prioridades no
hodierno do exercício de nossa missão eclesial e do nosso ministério? Rezamos o
suficiente todos os dias? Somos fiéis, sentados aos pés de Jesus, e justos, em
nossas decisões? Nossas Comunidades rezam ou cozinham melhor? Se é que sabem o
que pretendo refletir, a começar de meu próprio ministério?
Sejam muito abençoados. Com ternura e
gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Gn 18,1-10; Sl 14 (15);
Cl 1,24-28 e Lc 10,38-42).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2019, pp.
73-76 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2019), pp.
39-47.
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