COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
PRIMEIRO
DOMINGO DA QUARESMA
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
O sagrado tempo da Quaresma caracteriza-se pela vivência
profunda do mistério da paixão do Senhor. Na Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos a
caminhada quaresmal em direção da Páscoa de Jesus e nossa.
Para as comunidades cristãs, a
caminhada quaresmal se apresenta como um tempo de graça em que o próprio Deus,
por seu Filho e no Espírito Santo, nos fortalece na fé e nos educa para o
verdadeiro sentido da vida, o qual irrompe definitivamente na Páscoa. A Quaresma, que nos conduz à celebração
da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico muito rico e importante que requer ser
vivido com o devido empenho pela prática da caridade, da oração e da escuta da Palavra de Deus.
A Quaresma é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e
ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At 5,31).
A profissão de fé no Deus salvador é
disposição constante do povo fiel ao longo da história da humanidade. O “credo
do israelita” é reconhecer a ação libertadora de Deus na história,
comprometendo-se com ele. Jesus nos ensina como nos libertar das tentações do
dia-a-dia. O “credo do cristão” é aceitar Jesus como o Senhor ressuscitado dos
mortos.
Frutos da terra e do trabalho humano,
os bens que recebemos de Deus (emprestados e não como propriedade nossa, motivo
pelo qual devemos superar a avareza, o egoísmo, a insensibilidade com os que
têm menos do que nós, sem acumular nada do que não conseguiremos levar à
eternidade no dia em que nosso nome ecoar na mesma e, muito menos, esbanjar o
que poderia enriquecer a dignidade de mais de um bilhão de pessoas que passam
fome, diariamente, no mundo) tornam-se pela ação de graças a ele, sinais
sacramentais de sua benevolência e promessa de bens maiores e eternos.
Depois de ser batizado nas águas do
rio Jordão e ser publicamente proclamado como o “Filho amado de Deus”, Jesus é “conduzido pelo Espírito ao deserto”. Mais do que lugar geográfico,
o deserto é oportunidade de prova e de afirmação da fidelidade à missão. Jesus rechaça as propostas do
tentador, ratificando sua determinação de se entregar até as últimas
consequências, obediente à vontade do Pai, e de cumprir sua missão segundo o
projeto que fora confiado.
Gosto de pensar que o problema não é o
pecado e nem as tentações que diariamente nos são propostas. São-nos
apresentadas muito apetitosamente. O problema é ceder ao pecado e às
tentações. Elas nos cercam a todo o momento. Percebê-las, constatá-las, e até
discerni-las não é nosso problema. Só trairemos a fidelidade para com Deus, na
medida em que cedermos ao pecado e às tentações.
A Quaresma se apresenta como um tempo de sobriedade que favorece a oração, a prática da caridade e a revisão de vida. Ela é tempo de graça de Deus que nos conduz às alegrias da festa da Páscoa.
Por isso, a caminhada quaresmal pode
se constituir para nós num tempo em que somos conduzidos pelo Espírito ao
deserto. Uma oportunidade ímpar para avaliar se nossos projetos de vida, nosso
modo de ser e agir corresponde ao projeto de Deus, para purificar nossa prática
religiosa, por vezes, infantil e interesseira, alicerçada em milagres ou na
prática de uma fé sem responsabilidade comunitária; para superar a prática
religiosa construída segundo as nossas opções e exigências; e para rechaçar o
império do materialismo consumista que cultua o lucro, o acúmulo, o ter e o
consumir.
Naturalmente, a conversão quaresmal só
é possível se tivermos a coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Palavra que deve
encontrar acolhida e moradia em nós, fazendo calar a voz dos “ídolos” que nos envolvem e atordoam. Conversão que significa nos
alienar de nossos insignificantes e confusos projetos para assumir algo mais
radical e original que nos conduza à proclamação, com todo o nosso ser, de que Jesus, vencendo as tentações do
deserto, triunfará também na definitiva e última tentação da Cruz.
Assim como Jesus, hoje, nós somos conduzidos ao deserto para uma experiência viva
de fé. Caminhando nas areias do deserto, o Espírito nos liberta do “homem velho” e nos amadurece para o
compromisso com o “novo”. Que o
grande retiro quaresmal alimente nossa fé.
Finalmente a primeira semana da Quaresma, nos indica pequenos
exercícios penitenciais, que tentarão lapidar nossa fé esclerosada,
envelhecida, mofada nos porões de nossa intimidade. Saibamos deixar arejar a
fé, recebida em nosso Batismo. Uma das tarefas interessantes seria saber o dia
de nosso batismo. Renovarmos o propósito de não falarmos mal de ninguém, sendo
Anjos uns para os outros. Outro bom exercício para esta semana, seria
procurarmos não mentir. Não importa chegarmos ao
final do dia e não termos conseguido. No dia seguinte, renovemos novamente tais
propósitos, repetindo-os como decoramos a tabuada. Em quarenta dias, haveremos
de conseguir mudar, pelo menos, alguma coisinha feia em algo maravilhoso diante
de nós mesmos, de Deus tão cheio de Misericórdia e dos outros.
Desejando-lhes bênçãos, com ternura e
gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Dt
26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13 e Lc 4,1-13)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Março de 2019, pp. 41-44; Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Março de
2019), pp. 39-41.
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