COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
QUARTO
DOMINGO DA QUARESMA - LAETARE
Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Na caminhada rumo à Páscoa, atingimos o quarto estágio
de nosso grande retiro. À medida que os dias passam, e as festas pascais se aproximam, aumenta nossa alegria. “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que
estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas
consolações”’(Is 66,10s).
O Senhor nos acolhe e convida a
tomarmos parte no banquete do seu amor misericordioso, deixar o nosso coração
transbordar de alegria com a música da festa, com as coisas boas que
aconteceram na convivência com as pessoas e a buscar no interior de nossa vida
motivos para bendizer o Senhor.
Neste Quarto Domingo da Quaresma ressoa o convite de participarmos na alegria do Pai que, agora,
por meio de Jesus Cristo, acolhe e salva os pecadores.
O amor e a bondade de Deus libertam as pessoas de suas misérias, da solidão e
do desespero. Para que isto aconteça, se faz necessário entrar na lógica do
amor e da bondade do Pai que se revelam em Jesus.
Como filhos pródigos reconduzidos ao
aconchego familiar pelo abraço amoroso do Pai, começamos a experienciar o amor
de Deus que, na Páscoa de seu Filho Jesus, nos perdoa e nos acolhe com carinho em sua casa. À luz do gesto
do Pai misericordioso entendemos melhor que a “fé, que atua pelo amor” (Gl 5,6), torna-se um novo critério de
entendimento e de ação que muda toda a vida do homem. Na descoberta diária do
seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes que jamais
pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um
amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria.
Assim como o povo de Deus celebrou a
Páscoa e se alimentou dos frutos da terra após entrar na terra prometida, vamos
nos nutrir da palavra da vida, que nos torna novas criaturas em Cristo e nos
faz experimentar a acolhida carinhosa do Pai celeste.
O povo se liberta à medida que
consegue o sustento com o próprio trabalho. Elementos básicos da boa
convivência familiar são a reconciliação, a alegria e o diálogo. A encarnação
de Jesus reconciliou-nos com Deus e nos tornou novas criaturas.
Celebrando hoje o mistério do amor
misericordioso de Deus, vemos que a parábola põe em cena três personagens: o
pai, o filho mais novo e o filho mais velho. Três figuras que se transformam em
referenciais para o nosso modo de ser e agir.
O pai é o protagonista da parábola. É
apresentado como uma figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões
e pela liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor
manifesta-se na comoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se
esse filho mudou a sua atitude de orgulho e de autossuficiência em relação ao
pai e a casa. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia
do filho. Um pai que continuou amando, apesar da ausência e da infidelidade do
filho.
O filho mais novo é ingrato, insolente
e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo a que tem direito. Da
perda dos bens materiais brota a consciência da dignidade perdida e da condição
de filho desperdiçada. Aqui emerge a grandeza da relação filial com o pai.
Decididamente, o jovem filho empreende o caminho de retorno à casa do pai. É o
apelo do tempo
quaresmal: “Deixai-vos
reconciliar com Deus”! O abraço reconciliador do pai faz o pecador
experienciar a alegria do perdão.
Na cena há alguém que não entende a
festa e nem a suporta: o filho mais velho. Ele é o “certinho” que sempre fez o que o pai mandou, que cumpriu as normas
e que nunca passou por sua cabeça abandonar a casa do pai. No entanto, seu modo
de proceder se pauta mais pela lógica da “justiça”
do que da “misericórdia”. Este filho
está satisfeito em servir um pai-patrão e incomodado diante do “pai cuja alegria é perdoar”.
A Quaresma ao mesmo tempo em que nos convida ao retorno à casa do Pai, “deixando-nos reconciliar por ele”,
apela à misericórdia solidária: “Jesus
Cristo ensinou que o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus,
mas é também chamado a ter misericórdia para com os demais”. O ser humano
alcança o amor misericordioso de Deus e a sua misericórdia, na medida em que
ele próprio se transforma interiormente, segundo o espírito de amor para com o
próximo.
A liturgia deste domingo convida-nos a experimentar a alegria da Páscoa que se aproxima, porque já
não há mais lugar para tristezas, pois o amor misericordioso do Pai por nós
seus filhos nos torna participantes de seu banquete.
A parábola do Pai Misericordioso nos
sugere os passos do Sacramento da Reconciliação: exigimos
a parte da herança que nos pertence, saímos da casa do pai, cuja convivência
virou “mesmice”, nem olhamos para
trás, deixando o pai falando sozinho. Viramos as costas para ele e nos
desvencilhamos dele. Fazemos de nossa vida o que bem queremos. Perdemos a noção
de valores e nos afogamos no consumismo, atraindo para nós mesmos um razoável
grupo de amigos, que nos ajudam a gastar descabidamente nossa vida. Quando
acaba nosso dinheiro, acabam também a fama, o prestígio e os que pensávamos
nossos amigos, mas que eram meros interesseiros. Fazemos a experiência da
exclusão, da difamação e até da calúnia. Entramos em “depressão profunda”, chegando ao fundo do poço. É neste estágio de
nossa vida que nos lembramos do Pai. Numa rápida retrospectiva de vida, fazemos
um profundo exame de consciência. Eis os passos da boa confissão.
Reconhecemo-nos sujos, cheios de
pecados. Isso exige humildade!
Fazemos nosso Ato de Arrependimento ou
contrição. Enchemo-nos de coragem para a volta. Aqui é interessante perceber
que o Pai não corre atrás do filho. Deixa que vá. Mas fica, cheio de esperança,
de olhos fixos na volta do pródigo. E quando o avista, nem deixa que chegue,
mas sai correndo ao encontro do filho que resolveu voltar. A alegria do Pai, em
avistar a volta do filho é maior do que qualquer pretensão de castigo.
O filho se diz arrependido e pede o
perdão. Também aí o pai nem deixa o filho terminar sua confissão. Abraça-o,
sinal de acolhida. Beija-o, sinal de ósculo da paz. O beijo no rosto do filho
garante que lhe será restituído a paz que o pecado lhe roubou. Túnica nova: o
passado já passou; daqui para frente é vida nova, como nova é a túnica. Quem
uma vez foi perdoado pelo Pai, não tem mais o direito de culpar-se de nada.
Sandálias para os pés, já que somente filhos de escravos andavam descalços. Os
filhos dos Senhores calçavam sandálias. Anel no dedo: volta à condição de
príncipe e herdeiro. Mesmo que tenha esbanjado a parte de sua herança, continua
sendo herdeiro de tudo o que é do Pai. Novilho gordo, música e festa: A
Eucaristia que celebra sempre de novo a Páscoa do
Senhor! É lindo demais este riquíssimo Sacramento da Reconciliação!
Já o filho mais velho não aceita a
volta do irmão. Sente inveja porque o Pai acolhe aquele que abandonara a
Família. É duro no julgamento, pois ele sempre observou tudo direitinho. Não
conhece a dimensão da misericórdia do Pai. Prefere condenar a acolher. Um pouco
daquilo que acontece frequentemente em nossas Comunidades. Acontece, também, no
Presbitério, na Política e na Sociedade! Somos muito rígidos em nossos julgamentos
e nos colocamos no lugar de Deus, já emitindo nossa condenação, geralmente
expressa na exclusão do que consideramos mais pecador do que nós.
Que a Quarta Semana da Quaresma nos ajude na profunda conversão. A qual dos personagens nos identificamos mais: ambos merecem o
amor misericordioso do Pai. Porém, o Pai não impõe, mas dispõe da graça do
perdão! É necessário que sintamos e queiramos a necessidade do perdão de Deus.
Concluo com o que gosto de pensar: justiça + misericórdia = amor com sabor divino!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com
ternura e gratidão, meu abraço sempre fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Js
5,9-12; Sl 33(34); 2Cor 5,17-21 e Lc 15,1-3.11-32)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Março de 2019, pp. 97-100 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Março de
2019), pp. 54-60.