COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
QUARTO
DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Caminhando no
itinerário do ano litúrgico, vamos, pouco a pouco, seguindo Jesus. Hoje ele se manifesta como profeta do Pai. É aceito por uns, rejeitado por outros. Nele se cumpre a
profecia de Simeão: “Este menino será sinal de contradição” (Lc 2,34).
Jesus, o profeta, relembra e atualiza a
aliança e o projeto de Deus ao povo, mesmo que por parte de alguns haja reação
de desprezo, rejeição e até o expulsam da cidade.
Como profetas do Pai, somos chamados a
acolher a salvação como dom de Deus, salvação aberta a todos.
Celebrar a Eucaristia nos torna
comunidade profética a serviço da libertação dos pobres. Deus nos chama e nos
consagra para a vivência do amor, como família que escuta e comunica a palavra
da vida. A páscoa de Jesus se realiza em todos os grupos e pessoas que assumem
com fé, esperança e coragem a missão libertadora.
Deus nos ama, segundo sua palavra proclamada, desde o ventre
materno e nos escolheu para formar comunidades unidas no amor e preparadas para
enfrentar todo tipo de oposição ao projeto do reino.
A exemplo de Jeremias, a comunidade
tem a missão de ser profeta que não teme conflitos. O autêntico profeta
encontra muita resistência em sua missão. O amor é o dom maior e permanente.
Em Jesus, Deus cumpre a palavra e revela o
seu amor na história humana: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de
ouvir”. O projeto de Jesus encontra rejeições, desde o
início, pois manifesta o significado universal de sua missão como Messias e Filho de Deus. A oposição a Jesus e sua mensagem libertadora
culminará com a sua morte na cruz. A sua palavra e o seu testemunho impelem a
um compromisso radical com a transformação das injustiças deste mundo.
A Boa Nova de Jesus atinge outros povos, os gentios.
Encontra rejeição para ser testemunhada da Galileia até Jerusalém e daí até os
confins da terra, seguindo a narrativa de Lucas e Atos dos Apóstolos. Como Jesus, também os seus seguidores e as suas seguidoras enfrentam
adversidades por causa da missão profética a serviço do Reino. A voz dos verdadeiros
profetas continua sendo silenciada. Mas é necessário arriscar-se para proclamar
a mensagem da salvação a todos os povos e nações.
O verdadeiro profeta não é acolhido, pois fala em nome de Deus e está comprometido com
o seu projeto de vida plena para todos. Jeremias, chamado e consagrado, desde o
ventre materno, segue a vontade de Deus e se coloca a serviço do Reino da justiça. Diante das
dificuldades, ele deve permanecer firme como “uma coluna de ferro e um muro de bronze”. Que a força da palavra de Deus nos envolva e nos liberte para
estarmos sempre de prontidão, preparados, para anunciarmos a
mensagem profética de esperança.
Prossigamos com Cristo o caminho de fidelidade ao Pai,
através do amor que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. Esse
amor, que “jamais passará”, leva a
formar uma grande fraternidade universal, superando todas as formas de
discriminação e privilégios. A comunidade eclesial, construída no amor de Deus,
torna-se firme e inabalável para anunciar a salvação a todas as pessoas.
A comunidade, corpo do Senhor, participa de seu
carisma
profético, anuncia a sua Palavra, anuncia sua morte e proclama sua ressurreição e aguarda confiante
sua vinda final.
Que a participação nas mesas da Palavra e da Eucaristia renove em nós a vocação
profética. Que sejamos anunciadores da Boa Notícia e corajosos para denunciar todo tipo de injustiça, corrupção e
pecado que destrói as pessoas.
O Ano Santo da
Misericórdia reascendeu em cada cristão sua missão profética. Não é possível manifestar nossa fé, sem o sabor profético que é
tridimensional: denunciar as injustiças, proclamar a Boa Notícia da presença do
Reino de Deus revelado e presente entre nós e indicar nossa conversão, coerência e bom senso em todas as nossas relações: pessoais, eclesiais (comunitárias),
políticas e sociais.
Afirma-se que um verdadeiro cristão, não tem
como viver sua missão profética na política de nosso sistema capitalista
neoliberal selvagem, onde o dinheiro, o lucro fácil e imediato (muitas vezes a
custa dos mais fracos e empobrecidos) sempre tem a “última palavra”. Um político profeta a exemplo de Jeremias, um cristão a exemplo
de Jesus, um discípulo missionário a exemplo de Paulo não sobrevive aos nossos
sistemas, que se escondem atrás de partidos em demasia e da covarde omissão de
uma profunda “Reforma Política” prometida há década, mas que talvez não convenha aos nossos
governantes equivocamente eleitos, ou então eleitos sem critérios e sem
consciência política, profética e ética.
Como seria bom, se todos nós,
fizéssemos da descrição do amor, no cântico da Caridade proclamado na
primeira carta aos Coríntios (12,31-13,4-13) a prática de nossa fé, e mais do
que isso, a ousada, profética e corajosa agenda de compromissos nas diversas
relações de nosso hodierno! Seguramente evitaríamos os “pecados sociais”, inscritos no túmulo do Mahatma Gandhi, tão evidentes em nossas
decisões eclesiais (pastorais e canônicas), políticas (em todos os Poderes
constituídos) e pessoais, onde a todo o momento fazemos acepção de pessoas que
nos convém e discriminamos as que nos incomodam: “São sete os pecados sociais: política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem
consciência, educação sem caráter, negócios sem moral, ciência sem humanidade e
religião sem sacrifício”.
Sejamos corajosos e ousados, sem medo
de perder oportunidades, cargos, funções, prestígio e pessoas interesseiras que
se dizem amigas quando lhes somos úteis, tão somente. Tenhamos a coragem de Jesus, a quem somos convidados a remeter nossos interlocutores, por
conta de nossa fé, que não pode continuar esclerosada, mas precisa ser
manifestada ao mundo sempre. Eis nosso compromisso com a Família, a Sociedade e
o Mundo em que vivemos.
Sejam sempre muito abençoados,
profeticamente. São Brás, o Protetor contra o mal da garganta e de
qualquer outra doença, proteja nossa voz, especialmente em favor dos que não
têm vez.
Com ternura e gratidão, meu abraço
sempre fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jr 1,4-5.17-19; Sl
70(71); 1 Cor 12,31-13,4-13 e Lc 4,21-30).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2019,
pp. 25-29 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2019),
pp. 14-16.
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