COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
VIGÉSIMO
OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM
“Enviados para
testemunhar o Evangelho da paz”!
“Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Estamos no segundo final de semana do mês de outubro, Mês dedicado às Missões e
ao Rosário, Nossa Senhora
Aparecida e Dia das Crianças!
A leitura do evangelho deste domingo
traz presente a dimensão vocacional. De Roma temos a grande notícia: a
canonização de dois santos, Oscar Romero e Paulo VI. Nos fazemos, também,
próximos na oração pelo êxito do Sínodo dos Bispos – que está sendo realizado
neste mês, em Roma, sob o tema “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
Quem pode ser salvo? Perguntam, com
espanto, os discípulos. Todos aqueles que aderem a Deus e a seu Reino, o
considerando como sua verdadeira e maior riqueza. “Em comparação com ele (a sabedoria a que
se refere a 1ª leitura), julguei sem valor a riqueza” (cf. Sb 7,8), pois “uma riqueza incalculável está nas suas mãos” (v. 11b).
Na segunda leitura, continuamos a
ouvir a Carta aos Hebreus, iniciada no domingo passado, a qual se estenderá até
a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Neste domingo, refletimos sobre a profundidade da Palavra.
Assim como fez o homem rico, Jesus nos
dirige sua palavra viva, que nos convida a abandonar tudo o que não condiz com
o evangelho a fim de sermos seguidores dele. Nem a todos o Senhor pede o
abandono de tudo para segui-lo, mas a todos mostra que o acúmulo e o
enriquecimento ilícito não combinam com os valores do reino por ele pregado.
Deixemo-nos tocar e julgar pela palavra de Deus, a qual não se reduz a leis e regras a serem cumpridas. Ela nos
fornece sabedoria para discernirmos o que é importante e o que deve ser deixado
de lado, no seguimento de Jesus.
Precisamos da sabedoria divina para
discernir os valores importantes. Os passos do discipulado cristão são: viver
os mandamentos de Deus, partilhar os bens e seguir Jesus. A Carta aos Hebreus
nos mostra a importância e o valor da palavra de Deus para as
comunidades.
Embora não se esgote nisso, três
ideias podem nortear a reflexão deste domingo: 1º) o seguimento de Jesus (quer
na vocação de todo batizado, quer na vocação específica) requer desapego e
disponibilidade (isto é, colocá-lo em primeiro lugar); 2º) sábio é aquele que
prefere a sabedoria de Deus em lugar de todos os bens e promessas humanas; 3º)
a consequência do desprendimento dos bens é a partilha.
Penso que há uma grande diferença
entre ser sábio e ser sabido. O sabido é quem possui
grande quantidade de informações, títulos, diplomas, bens perecíveis,
prestígios, funções e cargos, sem saber administrá-los ou achando que é a
pessoa mais feliz e reconhecida do mundo por isso. Pobre coitado! Esvazia-se de Deus, para endeusar-se sobre os
outros. Como isso é frequente em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e
Sociais. É vazio e oco do essencial. Julga os outros sem piedade, pensando ser
o melhor, porque demonstra ser “certinho” e cumpridor das regras, pelo menos aquelas que o
determinam melhor sobre os demais. Coisa feia, quando
percebemos tais atitudes, sobretudo em ministros ordenados, políticos, artistas
e representantes do Povo. Confinado num pedaço de madeira no dia em que seu
nome ecoar na eternidade, deixará tudo para trás. E vazio de Deus não terá como
transcender à eternidade feliz, o fim último de todas as
criaturas humanas! Já o sábio, tendo ou não “muitas coisas”, pede sua participação
na sabedoria divina. Sabe administrar
todos os dons e qualidades que lhe são concedidos, gratuitamente, pelo Criador
de tudo. Não se importa com elogios, não necessita de reconhecimentos e nem de
títulos e prestígio. Há maior prestígio do que o elogio vindo do
coração misericordioso do Senhor? Façamos a Leitura Orante da página do
Livro da Sabedoria deste domingo, que nos orienta tão claramente sobre esta
questão. Quem não mergulhar nas profundezas do apelo de Deus nesta página,
ainda está longe do Reino. E tudo aquilo ou aquele que não é de Deus cai. Um dia cai.
“Que se deve fazer para receber a vida eterna?”. Eis uma pergunta que cada um de nós também faz, em seu coração,
com estas ou outras palavras semelhantes.
Jesus responde que, inicialmente, se
deve viver conforme os mandamentos, porém, o simples cumprimento das obrigações
não é suficiente, é exigida do coração uma opção que assuma o Reino de Deus e o seguimento
como a maior riqueza da vida; exatamente como ilustra a parábola do tesouro
encontrado no campo (cf. Mt 13,44-46). Cabe-nos o questionamento a
respeito da importância que atribuímos ao Reino e ao seguimento. A “fórmula” para calcularmos essa importância é
através do desapego. O que seríamos capazes de renunciar, em função do Reino?
O ensinamento de Jesus aqui não é
tanto sobre o desprezo dos bens, como se eles não tivessem valor em si mesmos,
mas o de que o Reino deve ser colocado em primeiro lugar por todo aquele que quiser
ganhar a vida eterna.
Quais as coisas que se antepõem ao Reino, na sociedade de hoje? Quais
delas se fazem presentes em minha vida pessoal e se antepõem ao Reino?
Na dimensão da partilha, destacada nos
textos deste domingo, vê-se a certeza de que o desapego, em nome do seguimento
de Jesus, não é em vão, mas produz “cem vezes mais” (cf. v.30). A partilha garante “um tesouro no céu” (cf. v.21).
Diante dessa Palavra, nos confrontamos com o
egoísmo e materialismo do mundo de hoje, misturados ao individualismo, ao
acúmulo de bens e ao vazio da laicização (um mundo que nega o valor, como
palavra digna de crédito, da religião institucionalizada).
Cabe aos cristãos de hoje reassumirem,
com coragem, a prioridade do Reino sobre todos os desvalores egoístas e apegados do mundo atual.
Cabe-lhes testemunharem a Sabedoria da Palavra de Deus que é “viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de
dois gumes” (cf.
Hb 4,12). Seremos perseguidos (cf. Mc 10,30), mas receberemos a vida eterna e cem vezes mais felicidade do que
a recebida na lógica do mundo do egoísmo e do apego.
“Felizes os
pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Existe uma diferença entre ser Pobre em espírito e Pobre de espírito. O pobre em
espírito sempre tem espaço para o amor de Deus em seu coração, e faz a
experiência de Sua Sabedoria e Misericórdia em suas relações. Já o pobre de
espírito é aquele autossuficiente, arrogante, prepotente, que pensa bastar-se a
si mesmo. Para muitos de nós sermos os ricos fadados à miséria eterna, porque
vazios de Deus, só nos falta mesmo o dinheiro, pois até pose de ricos já temos.
Quem não sonha em ser rico, tendo sempre mais coisas do que possui? Eis o
convite à nossa conversão: “estarmos nus e descobertos aos olhos de Deus; sendo do jeito
que somos de verdade” (cf. Hb 4,13b).
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço sempre fiel e amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Sb 7,7-11; Sl 89(90); Hb 4,12-13 e Mc 10,17-30)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Outubro de 2018, pp. 54-57 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de
Outubro de 2018, pp. 65-70.
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