COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
VIGÉSIMO
SEXTO DOMINGO COMUM
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Estamos celebrando o último domingo do
mês de setembro. Neste dia, recordamos, de uma maneira toda especial, a Bíblia. Nenhum outro livro conseguiu
ser traduzido para tantas línguas e chegar a tantos povos como a Bíblia, na qual encontramos a Palavra de Deus. Mesmo escrita há
séculos, consegue ser sempre atual e importante para qualquer momento de nossa
vida.
A liturgia deste Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum se apresenta com uma série de ensinamentos, que manifestam a
essência da Bíblia. Claramente, podemos ver,
pelas palavras de Jesus, que ninguém pode autodenominar-se dono da verdade e muito menos
se sentir como exclusivamente único na promoção do bem, em nome de Deus. Temos que ser capazes de
reconhecer e aceitar a presença e a ação do Espírito de Deus, através de tantas pessoas boas não pertencentes à nossa
instituição, que talvez não pratiquem os mesmos ritos e devoções por nós
praticados, nem professem nossa fé, mas que também são sinais do amor de Deus neste mundo.
O Espírito de Deus não está preso a
nenhuma instituição, mas age livremente e pode se servir dos instrumentos mais
inesperados. A páscoa de Jesus se manifesta nos grupos e pessoas que,
independentemente de credos, se doam a favor dos pequenos e procuram realizar o
bem em meio à sociedade. Neste dia da Bíblia, acolhamos com alegria a carta que
o Pai celeste deixou para cada um de nós.
Pode haver profetismo ligado a uma
instituição, mas existem outros não menos verdadeiros, fato reconhecido por
Moisés e por Jesus. A palavra de Deus nos mostra que a defesa dos pequenos e a
vivência da justiça transcendem instituições e crenças.
O dom da palavra para profetizar e
anunciar as maravilhas de Deus não é exclusividade de algumas pessoas ou de
alguns grupos. Riqueza acumulada é sinal de morte; partilhada, sinal de vida.
Venha de onde vier, o bem sempre será bem-vindo.
A liturgia deste domingo nos coloca,
mais uma vez, no contexto do ensinamento de Jesus a seus discípulos, enquanto caminham para Jerusalém. Apresenta
alguns elementos importantes que precisam ser continuamente recordados. Tanto a
primeira leitura quanto o evangelho, nos recordam que Deus não é propriedade de ninguém.
Nenhuma igreja, instituição ou hierarquia possui o monopólio do Espírito, nem pode contratá-lo e,
muito menos, acorrentá-lo. O Espírito, porém, está em todos aqueles que, pela prática dos valores
ensinados por Jesus, estão abertos e dispostos a assumir o caminho que leva à
verdadeira construção do Reino de Deus, que não é comida nem bebida, mas amor, paz, justiça,
solidariedade, partilha.
Nossa comunidade deve ser capaz de
promover o diálogo e saber valorizar as ações boas de outros grupos.
O verdadeiro cristão não tem inveja do
bem que outros fazem, não sente ciúmes se Deus atua através de outras pessoas, mas esforça-se, cada dia, por
testemunhar os valores do Reino e alegra-se com os sinais da presença de Deus em tantos irmãos que lutam
por construir um mundo mais justo e fraterno.
A postura de Jesus evitou que a comunidade se
fechasse em si mesma. Hoje poderíamos até dizer que sua orientação tendeu a um
discurso ecumênico. Para reafirmarmos essa postura, é interessante lembrar que,
há mais de 50 anos, o Concílio Ecumênico Vaticano II reconheceu a ação do Espírito Santo, no movimento
pela unidade dos cristãos.
O evangelho também nos coloca diante
do problema do escândalo dos pequenos na comunidade. É importante entender que
“os pequenos” não são necessariamente as crianças, mas os excluídos, os pobres,
os doentes, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros, hoje os migrantes. Originariamente,
o sentido da palavra “escândalo” significa “pedra de tropeço”. Então, ai de
quem for essa pedra e for causa de tropeço. Ela pode ter até mesmo certas
atitudes que não permitem o crescimento da comunidade. Esta é uma advertência
especial aos líderes que são os primeiros responsáveis pela comunidade.
A radicalidade exigida por Jesus não
deve ser considerada no âmbito físico. Usando imagens e linguagem tipicamente
semitas, Jesus manda cortar e jogar fora tudo o que possa causar problemas,
seja no contexto pessoal ou comunitário, mesmo se isso exigir uma atitude
drástica, a fim de não sermos motivo de queda para ninguém.
A Bíblia é a Carta de Amor de um Deus apaixonado pela Humanidade. Orienta-nos, sobretudo neste
domingo, à coerência entre o que pensamos, celebramos, rezamos e vivemos em
nossas relações humanas. Jesus, Moisés e Tiago são muito lúcidos em suas orientações para nossas Comunidades de
Fé, Oração e Amor. Devemos estar atentos: líderes eclesiais, agentes de
pastoral, autoridades religiosas, mas também e, principalmente as autoridades políticas! Ai de nós, se
escandalizarmos a quem quer que seja. Geralmente os maiores escândalos são
promessas impossíveis de serem cumpridas, mentiras deslavadas, corrupção,
desvio de enorme quantidade de verbas, falcatruas escancaradas, subestimando a
capacidade de discernimento dos cidadãos. Pior, é quando os eleitores não
exercem sua cidadania. Quando votam por interesses pessoais e não pelo BEM COMUM!
Desejando-lhes bênçãos, com ternura e
gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Nm
11,25-29; Sl 18(19); Tg 5,1-6 e Mc 9,38-43.45.47-48)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Setembro de 2018, pp. 96-99 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de
Setembro de 2018, pp. 47-52.
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