COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
VIGÉSIMO
QUINTO DOMINGO COMUM
Meus queridos
Amigos e Irmãos na Fé!
Animados pela celebração do Mês da Bíblia, na qual encontramos a Palavra por excelência, que se diferencia das que normalmente ouvimos, queremos orientar
nosso agir tentando entender, a cada domingo, o que Deus nos fala. À medida que
celebramos o Tempo Comum o anúncio da
Paixão é uma realidade muito próxima.
A liturgia deste domingo apresenta a palavra como luz para nossa vida e
nos coloca diante de duas realidades que, continuamente, nos interpelam e até exigem
nossa opção: a “palavra do mundo” e a “palavra de Deus”. Convida-nos a
pensar no modo como nos situamos na comunidade cristã e na sociedade e até que
ponto esta palavra é capaz de orientar nosso
agir.
Discípulos dele (de Jesus) somos
chamados a tomar posição, em meio aos conflitos sociais, a favor do direito e
da justiça e pôr-nos a serviço de todos, principalmente dos empobrecidos, sem
ambicionar honrarias. Façamos de nossa prática religiosa não um trampolim para
o prestígio, mas um sinal de nosso compromisso com o reino de Deus.
A Palavra de Deus denuncia as
intenções perversas dos injustos contra os justos, ensina que a inveja e a
rivalidade são causas de obras más e nos convida a abraçar Cristo no pobre e no
pequeno.
A presença do justo sempre incomoda os
perversos e corruptos. Jesus anuncia novamente sua paixão e convida os
discípulos para a humildade e o serviço. A inveja e a rivalidade são causa de
muitos males na comunidade.
Jesus denuncia e pede que tenhamos cuidado com o poder, com as
tentativas de domínio sobre os outros, com os sonhos de grandeza, com as
manobras para conquistar honras, lucros e privilégios, com a busca desenfreada
por títulos e posições de prestígio, pois são atitudes que revelam uma vida
segundo a “palavra
do mundo”.
Jesus nos convida a uma opção de vida que manifeste o que ele mesmo é,
tendo nos deixado como testamento: um coração simples e humilde, capaz de amar
e acolher a todos em especial os excluídos, sem necessidade de retribuição e
reconhecimento público.
Não há meio termo, Jesus é claro e exigente: quem
quiser segui-lo deve acolher sua proposta e consequentemente seus desafios.
Como Igreja devemos estar dispostos a testemunhar nossa fé por meio de atitudes
que manifestem a verdadeira palavra que é Caminho, Verdade e Vida.
Os “ímpios” descritos pelo autor da
primeira leitura são que, além de não aderirem aos valores de Deus, ainda
zombam dos costumes e dos valores religiosos, por considerarem essas práticas
religiosas inadequadas para os dias de hoje, ou seja, não compatíveis com a
modernidade. Os justos, com sua prática de vida, acabam por ser uma espécie de
empecilho aos ímpios que se sentem continuamente questionados. Estes reagem,
atacando os justos e colocam Deus a prova para ver até onde ele permite o
sofrimento dos que o temem.
O Livro da Sabedoria nos oferece uma
palavra de ânimo, muito oportuna para nossos dias, pois todo justo será
recompensado e sua vida experimentará a plena e definitiva vida que Deus
reserva para aqueles que escutam suas palavras, aceitam seus desafios, trilham
seus caminhos e se comprometem com a construção de um mundo mais fraterno,
lutando pela justiça e pela paz.
Quem optar viver segundo a “palavra de Deus’” não terá facilidades, nem viverá em um romantismo mágico pelo
qual tudo acabará em alegrias e grandes realizações. Estará, porém, sujeito a
críticas, a perseguições, a incompreensões e até ao próprio fracasso.
Entretanto não serão as situações contrárias que farão com que desanimemos na
prática da justiça.
O texto que nos é proposto na carta a
São Tiago leva o cristão a fazer uma sincera análise sobre a origem das
discórdias que destroem a verdadeira vida das comunidades cristãs. O autor
exorta a comunidade para que não perca os valores cristãos autênticos e coloque
em prática a palavra de Deus, que se encontra,
de maneira privilegiada, em Jesus Cristo, fazendo de suas vidas um dom de amor aos irmãos, traduzindo em
gestos concretos de partilha, serviço, solidariedade e fraternidade.
Vigiemos para que nosso coração não
esteja ocupado por ambições, invejas, orgulhos, competições, egoísmos que nada
mais criam que divisões e nos impedem de entrar na vida plena.
Jesus teve dificuldade de fazer com que entendessem. Ainda hoje podemos
ter essa mesma dificuldade. Não temos tempo para saborear e entender a palavra de Deus, pois nossas
preocupações podem estar sobre outras realidades. Será que não ficamos falando
tantas coisas que não são tão importantes ou fundamentais? Por isso, a dinâmica
de Jesus é muito importante:
sentou-se, chamou mais perto, tomou a criança como exemplo... Sempre vai
educando os discípulos sobre que tipo de messias é e como quer que sejam os que
se dispõem a segui-lo. O evangelho é um contínuo ensinamento, mas a cegueira
dos discípulos persiste. Quem quiser segui-lo deve dispor-se a servir.
Assim como no tempo de Jesus, o interesse de saber quem é
maior toma conta de muitas rodas de conversas e orienta as ações de muitas
pessoas hoje, determinando as prioridades e os investimentos. Neste dia, cabe
uma pergunta: em que estamos investindo nosso tempo, nossas energias, nosso
dinheiro, enfim, nossa própria vida? Em realidades passageiras que,
aparentemente, podem ser importantes, pois vivemos em uma sociedade capitalista
e imediatista, ou em ações que conscientemente constroem pessoas, famílias e um
mundo que proporcione o prazer de uma vida integral? Jesus nos convida a abandonarmos
nossos sonhos egoístas e orientarmos nosso agir para a essência de sua proposta.
No Reino de Deus não há uma escala
hierarquizada de pessoas que possam ser umas mais importantes que as outras,
mas há uma proposta de amor que se realiza no próximo. Algo difícil para nossos
dias. O próximo, neste caso, está simbolizado pela criança que é sinal dos que
são os últimos. Assim, a proposta de Cristo deve começar pelos que são últimos: os sem direitos, os fracos,
os pobres, os indefesos, os facilmente manipulados, tal como eram vistas as
crianças em seu tempo. O maior é aquele que ama e
serve”.
Pouco tempo antes de sua páscoa, tive
o privilégio de conversar longamente com o Pe. Léo da Canção Nova, enquanto
aguardávamos nosso voo atrasado no aeroporto de Navegantes (SC) com destino a
São Paulo. Havia muita neblina. Entre as tantas coisas profundas que ouvi do
Pe. Léo, lembro a propósito da Palavra de Deus deste domingo, duas: “Sempre tive muita pena dos pobres. Depois que fiquei doente e
percebi que não era de nada, passei a ter pena dos ricos. Os pobres, quando
chamados à eternidade, não terão praticamente nada a deixar para trás. Mas
coitados dos ricos, que acumulam coisas desnecessárias. Quando esses forem
chamados a deixarem este mundo, terão de deixar tudo que acumularam para trás.
De quantos projetos precisei abrir mão, desde que soube que tenho pouco tempo
de vida. É doloroso demais...” “O cristão autêntico é como um bambu: vem ventos fortes que o
levam ao chão e ele se reergue... vem as chuvas fortes, e ele se refresca,
porque não teme as tempestades... vem os relâmpagos e ele os absorve e
enterra... o bambu, como o cristão, por mais que seja surrado, nunca desiste de
crescer para o alto!”
Não desanimemos jamais. Olhemos para o alto e façamos dele nosso
destino, nosso Fim Último, porque lá está a esperança de nosso futuro e de
nossa felicidade verdadeira!
Sejam todos muito abençoados. Com ternura e
gratidão, o abraço fiel e amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Sb
2,12.17-20; Sl 53(54); Tg 3,16-4,3 e Mc 9,30-37)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Setembro de 2018, pp. 78-81 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de
Setembro de 2018, pp. 42-46.