COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM
Meus queridos
Amigos e Irmãos na Fé!
“É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal?
Salvar uma vida ou deixa-la morrer” (Mc 3,4).
Hoje, especialmente hoje, como todos
os domingos, é festa. Grande festa, pois é domingo, dia semanal em que
celebramos a Páscoa do Senhor e nossa Páscoa. Como, aliás, diz
uma das orações do Missal: “Senhor, Pai santo, é nosso dever e salvação, dar-vos graças e
bendizer-vos, porque, neste domingo festivo, nos acolhestes em vossa casa.
Hoje, vossa família, reunida para escutar vossa Palavra e repartir o Pão
consagrado, recorda a ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem
ocaso, quando a humanidade inteira repousará junto de vós. Então,
contemplaremos vossa face e louvaremos sem fim vossa misericórdia”.
O Senhor nos fala, quando são proclamadas as Escrituras. Somos
convidados a alimentarmo-nos dela, comungando-a como comungamos o pão
consagrado, que é Seu próprio Corpo dado a nós, tornando nosso coração seu “Porta-Jóias”, seu “Sacrário” ou seu “Tabernáculo” Que tal comunhão
da Palavra e da Eucaristia continue ressoando aos nossos
ouvidos e aquecendo nosso coração.
Nas celebrações deste tempo litúrgico,
chamado comum, nossas comunidades são convidadas a acompanhar o caminho de
Jesus, seus passos, suas ações e palavras, como foram guardadas e transmitidas
pela comunidade de Marcos.
A página do Livro do Deuteronômio
propõe um dia de descanso dedicado ao Senhor da vida. Para o povo da antiga
aliança, esse dia era o sábado; para nós, cristãos, é o domingo. Todos
(patrões, trabalhadores, escravos) têm direito a um dia de descanso semanal. É
dia de comemorar e celebrar a vida. A justificativa é não voltar à situação de
escravidão vivida no Egito.
Enquanto a primeira leitura ressalta a
importância do sábado como momento de descanso e de valorização da vida, o
evangelho é um convite a nos libertarmos do legalismo doentio. Apesar de
importante, a lei do sábado não pode sufocar a vida, pois esta tem precedência
sobre qualquer dia. Jesus nos ensina que toda lei é feita para servir e
libertar a vida humana.
As dificuldades e as fraquezas humanas
não podem nos separar de Deus. Ao contrário, servem para revelar a força e a
grandeza do Senhor. Paulo nos diz que somos “vasos de barro”. Todavia, mesmo
sendo frágeis, Deus conta conosco para levar adiante seus planos. A força
divina atua na fraqueza humana.
Ser a mão estendida de Deus contra as
forças do mal, contra a corrupção que produz tanta injustiça, tanto sofrimento
e tanta morte, traz a perseguição. Apesar das muitas diferenças, podemos dizer
que estamos vivendo situações e desafios parecidos com os que viviam a
comunidade de Marcos e a de Jesus.
Ao mercado romano que se abastecia dos
produtos do latifúndio escravagista, corresponde, de certa forma, o modelo de
desenvolvimento do capitalismo extrativista que nos foi imposto por várias
instituições internacionais e nacionais, pelas grandes corporações e pelos
investidores do sistema financeiro. Promovem um desenvolvimento enganoso,
centrado na entrega do território à exploração desmedida do minério, às
hidroelétricas e às monoculturas, sem respeitar os povos originários nem a
população local.
Da mesma forma, à sinagoga legalista,
correspondem, de certa maneira, as comunidades que se contentam com a
celebração de ritos litúrgicos, com as devoções e com um falso moralismo,
ignorando pobres e pecadores.
Estender a mão para contrastar estes
males, provoca a reação de órgãos poderosos que querem nos afligir, nos
angustiar, nos perseguir, nos derrubar.
Que o Espírito Santo de Deus e seu santo modo de operar nos
ilumine, para sermos humildes e termos a admirável fé que teve aquele homem da
mão seca, que foi capaz de ver, no ser divinamente humano, Jesus de Nazaré, a
presença perfeita do Deus solidário, o Deus da vida.
Insisto sempre comigo mesmo e com meus
interlocutores, que nossa fé só amadurecerá na medida em que for comprometida
com os valores essenciais ao cristão: amor gratuito, verdade, justiça, liberdade e paz. A vivência em nossas Comunidades, Pastorais e Movimentos de uma fé madura, logo comprometida, só será
verdadeira, na medida em que tivermos coragem de profunda conversão, coerência entre o que cremos e vivemos e bom senso, que nos incentive ao zelo e sensibilidade pastorais
sempre!
Sejam sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço
amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Dt
5,12-15; Sl 80(81); 2Cor 4,6-11 e Mc 2,23-28-3,6).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Junho de 2018, pp. 21-24 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Junho
de 2018), pp. 18-22.
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