COMENTANDO A
PALAVRA DE DEUS
DOMINGO DE
RAMOS
COLETA DA
SOLIDARIEDADE DA CF-2018
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão, entramos na Semana Santa. O que é a Semana Santa? Por que ela é tão importante na dinâmica do ano litúrgico?
Na Semana Santa celebramos a História da Salvação de um Deus que se
humilhou e tornou-se homem para caminhar conosco, conhecer a nossa história e
nos apontar caminhos de vida. Mas não é só isso. No Getsêmani, Jesus
experimenta uma grande tristeza e sente a dor da angústia. Suspenso entre o céu
e a terra numa cruz, ele vive o doloroso abandono por parte do Pai. Enfrenta a
traição de Judas que, com um beijo, o entrega aos seus inimigos. Pedro não o
reconhece na presença de uma empregada. Os discípulos, seus amigos prediletos,
fogem e o deixam sozinho nas mãos dos soldados. A condenação forjada é tramada
para eliminar sua pessoa e os desígnios de Deus nele manifestos. Jesus, o Servo Sofredor, despido de toda
dignidade é reduzido a um farrapo humano. Ele assume e faz seus todos os
sofrimentos. Em sua morte e ressurreição, estão presentes todos os sofrimentos
humanos.
Façamos um minutinho de silêncio,
olhemos para dentro de nós, até as entranhas de nossa intimidade, de nossa
consciência. Depois olhemos ao nosso redor. Existem situações parecidas com as de Jesus em nossas relações
humanas: sociais, eclesiais, políticas, familiares? Por acaso não sou também eu
responsável por determinadas traições, exclusões, condenações injustas, que
gritam fortemente em algumas pessoas de minhas relações e, que me remetem a
situações de nudez, constrangimento, flagelo, dor, solidão e farrapo humano, a
exemplo do Mestre? Um bom exame de consciência, com
toda a honestidade e transparência talvez nos surpreenda... Mas ainda há tempo de mudar!
A Semana Santa, tempo de comunhão e solidariedade com e em Jesus, é um tempo
santo e precioso para entrarmos na História da Salvação e da Libertação. Somos convidados
a tomar parte nesta história como agentes, como discípulos missionários, não
permitindo que o pecado, que levou Jesus à morte e ainda destrói tantas vidas,
invada o nosso ser e o nosso agir.
Nesta Semana, meditamos o Evangelho de Jesus, contemplamos sua prática,
acolhemos sua proposta de doação e partilha, entramos em sua atitude de obediência ao Pai e de serviço à humanidade.
A Palavra que ouvimos na celebração
deste Domingo de Ramos e da Paixão é muito forte. Ela nos confronta com nossa própria fé, com o modo
como a vivemos e testemunhamos. No Evangelho que segue a bênção dos ramos,
vemos Jesus a caminho de Jerusalém. Em que ponto deste caminho nós estamos?
Estamos à frente, atrás ou nos mantemos a beira da estrada? Exultamos
convictos: “bendito o que vem em nome do Senhor” ou o fazemos superficialmente, levados pelo “embalo da multidão”?
Não basta clamar “bendito o que vem em nome
do Senhor”. Urge agir e ser para que efetivamente haja
espaço para ele se tornar presente em nossa sociedade. Há várias formas de
buscar que isto se realize, uma delas é nos fazermos portadores da paz, que é fruto da justiça. É assumir, apesar de todas
as pedras no caminho, o chamado que nos é feito e, a exemplo do servo sofredor, poder dizer: “não lhe resisti nem voltei
atrás... sei que não sairei humilhado”.
Esta certeza nos é reforçada pelo
próprio Cristo que se esvaziou, se humilhou e depois foi por Deus Pai exaltado.
Participar da Eucaristia significa viver o mistério de Jesus Cristo em sua
totalidade. Neste Domingo de Ramos, porém, somos chamados a viver mais intensamente sua paixão e
morte e, com a Campanha da Fraternidade, reafirmar “Vós sois todos
irmãos” (Mt 23,8).
O evangelho da Paixão nos conduz à contemplação. O sofrimento intenso de Jesus nos faz
ver o quanto o projeto de amor e paz que ele trouxe entra em choque com o
contexto mundano. A grande lição da Paixão é a paciência em meio às provações. Dedução muito fácil de fazer,
mas difícil de pôr em prática. Somos convidados à firmeza de Jesus em meio às
contrariedades, na Fraternidade e Superação da
Violência!
É preciso fazer o mesmo que fez Paulo,
que não hesitou em recomendar a contemplação do próprio mistério da kénosis para animar a vida quotidiana
dos cristãos. A humildade, à imagem do Cristo, contribui para a qualidade de vida entre os
membros da comunidade. “Tende um mesmo amor, numa só alma, num só
pensamento; nada façais por competição e vanglória, mas com humildade, julgando
os outros como superiores a si mesmo, não visando ao próprio interesse, mas ao
dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl
2,2-5).
Unidos com toda a Igreja no Brasil,
concluímos neste domingo a primeira etapa da Campanha da
Fraternidade 2018, FRATERNIDADE E
SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA. “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). Além da nossa conscientização sobre o problema, os desafios e as
perspectivas de uma sociedade violenta, injusta e corrupta em nosso país, é o
dia de realizarmos o gesto concreto, pois a CF se expressa concretamente pela
oferta de doações em dinheiro, na Coleta da Solidariedade. Trata-se de um gesto concreto de fraternidade, partilha e
solidariedade, feito em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs,
paróquias e dioceses. A Coleta da Solidariedade é parte integrante da Campanha da Fraternidade. O gesto fraterno
da oferta tem um caráter de conversão quaresmal, condição para que advenha um
novo tempo marcado pelo amor e pela valorização da vida.
Possamos viver intensamente, a começar
das celebrações do Domingo de Ramos e da Paixão as riquezas de toda a Semana Santa, especialmente do Tríduo Pascal! Levemos no envelope da Coleta da Solidariedade, os frutos
saborosos de nossos exercícios quaresmais de penitência, como o jejum e a
abstinência. Pensemos naqueles que têm menos do que nós e sejamos generosos e
honestos diante de nossa consciência, de Deus e da Comunidade!
Desejando-lhes abençoada Semana Santa, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Mc
11,1-10; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11 e Mc 15,1-39).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Março de 2018, pp. 72-77 e Roteiros Homiléticos da CNBB para a Quaresma de
2018, pp. 31-38.