COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS DO
TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
A visão apocalíptica de Daniel ilumina a passagem da
Transfiguração de Jesus, seja no seu esplendor divino seja no sentido de que o
Eterno Pai vai outorgar ao Filho do Homem todo o poderio universal. Nesta
revelação encontramos os indícios da participação, da filiação divina de Jesus
com o Pai, e o seu reinado eterno.
O argumento de Pedro em seu testemunho sobre Jesus
não se baseia em fábulas, mas em experiências. A fé da Igreja deve ser
alicerçada nesta perspectiva, embora existisse uma resistência no meio
intelectual de que só a fé será suficiente para que o cristão se mantenha firme
em suas convicções religiosas. Mas não é isto o que a história bíblica revela
nem a experiência milenar da própria Igreja.
Pedro recorda que no monte Tabor a filiação divina
de Jesus foi reafirmada pela voz do Pai. Uma filiação não de adoção como é o
nosso caso, mas uma filiação eterna. Nesta filiação se derrama toda a graça e
dela recebemos a herança de uma filiação focada na plenitude de Deus feito
homem.
Foi assim que aconteceu com Maria. Toda formada
nesta presença divina, mas não isenta dos labores da vida. Nossa Senhora soube
garantir para si e para a Igreja, Esposa de seu Filho, esta presença contínua
de Cristo e ser transmissora desta luz divina aos irmãos quando Isabel fica
repleta do Espírito Santo, só com a saudação de Maria (Lc 1,41).
A Páscoa de Cristo se manifesta na comunidade que descobre no rosto
desfigurado do pobre o rosto luminoso do Pai. É preciso sair do comodismo e
deixar que a glória de Deus se manifeste em nós. Subindo à
montanha, somos convidados a ouvir o que Jesus tem para nos dizer e
contemplaremos sua face resplandecente.
.."Este é o meu filho muito amado,
no qual eu pus o meu amor: escutai-o!"
(Mt 17,5).
A transfiguração de Cristo
nos sugere que, se escutarmos a palavra do Filho amado do Pai, seremos
fortalecidos na decisão de trabalhar por um mundo melhor.
Antes da missão, os
apóstolos deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento da
verdadeira identidade de Cristo e dos mistérios do Reino. Jesus é o servo
sofredor e sua glória passa pela cruz. A exigência é: “escutem o que ele diz!” A
glória revelada manifesta-se em estreita vinculação com a obediência à Palavra.
E o que Jesus nos diz,
afinal? "Amai-vos
uns aos outros..." Será que ainda sabemos amar? Contemplamos filhos matando pais;
mães jogando filhos em latas de lixo e córregos; pessoas sendo traficados, de
alguma maneira; babás decepando a mãozinha de criança com apenas três meses;
jovens morrendo por dez reais; trânsito violento, irresponsável e
desrespeitoso, enfim, pessoas parecendo bichos selvagens! Que amor é esse? Enquanto não soubermos como é
bom amar gratuitamente, com sabor divino, ficaremos dependurados na
cruz, sem chegarmos à Transfiguração de Jesus!
O dia do Padre, transferido do
dia 4, memória litúrgica de São João Maria Vianney, muito tem a ver com a festa
da Transfiguração do Senhor. A vida sacerdotal deve ser um contínuo
transfigurar-se em Cristo e por Cristo, mas este slogan pode parecer deveras sentimental
e sujeito a equívocos. Ora, cada sacerdote tem sua experiência própria e
individual com Cristo sacerdote e é impossível ser cópias uns dos outros. São
pessoas escolhidas pela misericórdia de Deus a serviço do povo (Hb 5,1) e
jamais a serviço de si mesmos.
A Igreja se põe de joelhos frente
ao Único e Eterno Sacerdote, para que a concelebração/serviço dos sacerdotes
seja duradoura na autenticidade, no entusiasmo e na humildade vocacional.
O Papa Francisco tem insistido
numa “Igreja em saída, às periferias existenciais”. É lamentável quando não
escutamos tal apelo, mas preferimos ser uma igreja triunfalista, ufanista e que
não ultrapassa os limites de celebrações solenes e suntuosidades exacerbadas
desde vestimentas à decorações, que escondem nosso verdadeiro ministério
presbiteral. Se não ouvimos o Papa, será que ouviremos o que o Filho amado nos
tem a dizer? Ora, se não ouvirmos Jesus, muito menos viveremos o que nos pede: amá-lo
no pobre, no mais surrado pela vida, no enfermo, no idoso e no migrante!
Desejando a todos muitas
bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
Nenhum comentário:
Postar um comentário